"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Descoberta importante para tratamento de doenças psiquiátricas e neurológicas

Cientistas descobrem organização de «dicionário do cérebro»

Está aberto o caminho para tratar doenças como o autismo. Cientistas da Universidade de Carnegie Mellon (Estados Unidos), parceira de nove instituições portuguesas, descobriram «como está organizado o dicionário do cérebro», de acordo com investigadores citados pela Lusa.

O trabalho foi desenvolvido pelos neurocientistas Marcel Just e Vladimir Cherkassky e os cientistas informáticos Tom Mitchell e Sandesh Aryal, da Universidade de Carnegie Mellon. Nesta Universidade trabalha desde Janeiro o português Jaime Cardoso, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Esta investigação determinou como é que o cérebro organiza representações de substantivos, combinando imagens cerebrais e técnicas de aprendizagem mecânica.

«Descobrimos como é que o dicionário do cérebro está organizado», explica Marcel Just, professor de Psicologia, num comunicado do programa Carnegie Mellon Portugal distribuído esta sexta-feira.

Just acrescenta que o cérebro não faz apenas uma «ordem alfabética ou segundo cores e tamanhos»: «Fá-lo através de três características básicas», explica.

Os três códigos ou características são a relação física com o objecto, associação com o acto de comer e ideia de abrigo, explica o comunicado.

Estes factores, cada um deles codificado entre três a cinco áreas diferentes do cérebro, foram descobertos através de um algoritmo, que procurou pontos comuns entre as áreas cerebrais dos participantes, que respondiam a 60 substantivos sobre objectos físicos.

A palavra «apartamento», por exemplo, provocou alta activação nas cinco áreas que codificam palavras relacionadas com «abrigo».

Os investigadores conseguiram ainda prever onde se daria a activação cerebral mediante um substantivo apresentado aos participantes e que o significado dos substantivos é codificado de forma similar entre os participantes.

Os significados de certos conceitos estão, por vezes, distorcidos nas doenças psiquiátricas e neurológicas. Estas novas técnicas podem, por isso, permitir a medição dessas alterações e contrariá-las, como no caso de um autista, que pode ter uma codificação mais fraca na área do contacto social.

«Nós ensinamos a mente, mas estamos a moldar o cérebro, e agora podemos testar o cérebro sobre o quão bem aprendeu um conceito», conclui Marcel Just.

A experiência integra o Programa Carnegie Mellon Portugal, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e iniciado em Outubro de 2006, no âmbito do programa de intercâmbio de professores.

A iniciativa abrange mais de 160 estudantes portugueses e estrangeiros de mestrado profissional e de doutoramento, incluindo 10 projectos de investigação.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Os mundos secretos do Autismo e do Síndrome de Asperger

Os mundos secretos do Autismo e do Síndrome de Asperger
Luísa e Piedade têm filhos especiais, meninos com dificuldades cognitivas, de linguagem e interacção social. Partilham connosco as suas lutas diárias e ajudam-nos a compreender melhor estas duas perturbações do desenvolvimento.



Cristina Tavares Correia/Activa | 10 Mar. 2010

"Imagine o que é andar pelo mundo e todas as caras representarem uma ameaça para si, até a cara da sua própria mãe." Foi assim que Richard Davidson, investigador da Universidade de Wisconsin, EUA, resumiu, em poucas palavras um dos problemas principais do autismo: as deficiências na interacção social e comunicação.



Luísa André, 46 anos, sabe que o académico tinha razão: "Até o meu tom de voz pode ser uma ameaça", diz. Tem dois filhos autistas, Francisco, de 13 anos, e Alexandre, de 15. Alexandre não fala e tem uma deficiência mental profunda mas, ao contrário do irmão, não foge do contacto físico.



Todos os dias, Luísa tem uma batalha nova, seja para lhes dar mais autonomia nas acções do dia-a-dia - como ir à casa de banho sozinho ou comer - ou a lutar contra a incompreensão social. Quem não conhece crianças autistas, pode facilmente tomá-los por mal-educados. "Às vezes ficam umas clareiras de gente à nossa volta, quando o Francisco dá um grito num sítio onde está muita gente e muito barulho, porque tem hipersensibilidade aos sons. As pessoas assustam-se e fogem." Hoje, esta enfermeira divorciada vive sozinha com os filhos. Os seus pais são o seu braço direito nesta tarefa.





"Em dois meses, ele deixou de falar"


"Notei que havia algo errado com o Alexandre quando ele tinha pouco mais de dois anos, estava eu no final da gravidez do Francisco, mas pensei que não estivesse a lidar bem com a vinda do irmão", recorda Luísa. "Em dois meses deixou de falar (já dizia algumas palavras e pequena frases), de comer sozinho, de usar a casa de banho sem ajuda e passou a isolar-se. A última palavra que disse foi ‘água'. Só voltou a falar aos seis anos: segurou-me na cara, olhou para mim e disse ‘mãe'. Valeu por todas as palavras que me pudesse ter dito."



Apesar de tanto ela como o ex-marido serem profissionais de saúde, não suspeitaram do verdadeiro diagnóstico. Foi a insistência da família que os convenceu a procurar um especialista. "Na primeira consulta o diagnóstico foi brutal. Chegámos cá fora, chorámos e eu disse: ‘vamos comprar material educativo'", recorda. Com o Francisco, as coisas foram diferentes. "O desenvolvimento foi mais lento. Não me lembro dele sorrir em bebé, por exemplo. A confirmação do diagnóstico só aconteceu aos quatro anos mas, desde o início, o meu sexto sentido dizia-me que as probabilidades dele também ser autista eram grandes. Foi difícil ter de dizer ao mundo que tinha um segundo filho deficiente. Achei que a maior parte de mim olhava para mim como aquele ar de ‘coitada!' Não posso aceitar que a deficiência dos meus filhos seja um factor negativo na minha vida."



Muitos pais isolam-se, por causa da dor e da maior necessidade de protecção dos seus filhos face ao exterior. "Começamos a perceber que, o mundo à volta deles, de maneira nenhuma aceita esta diferença enorme que é o autismo. Deixei de ir a casa dos meus amigos porque não estava para me sujeitar a ouvir uma ‘boca' ou que as outras crianças gozassem com eles. Acabei por me isolar um bocado. É uma situação que ainda hoje me acompanha um pouco."





"Comunicamos com os olhos e o coração"


Os prognósticos dos médicos, especialmente em relação ao Alexandre, não quebraram o espírito de luta desta mãe. Ao contrário do que disseram os especialistas, o Alexandre largou as fraldas e aprendeu outras competências, como manusear um rato de computador. "Ninguém está preparado para ter um filho autista. Leva algum tempo a fazer o luto pelo filho que esperávamos vir a ter e adaptarmo-nos à nova realidade", observa Luísa. "Hoje, vivo melhor com a ideia de que ele não irá falar. Mas o sorriso dele, a forma como me beija ou abraça são, para mim, equivalentes a enormes conversas. Um filho autista obriga-nos a comunicar com os olhos e o coração. Os meus filhos são uma lição de vida para mim: dão a possibilidade de me confrontar, todos os dias, com gente diferente e de me tornar uma pessoa melhor."



Luísa, que também é membro da Direcção da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA), sabe que, quando os filhos forem adultos, continuarão a ser dependentes e essa é sua maior dor e preocupação. "Por muito que as instituições façam, pelo bem-estar destas crianças, como podem elas ter em consideração todas as necessidades especiais que os meus filhos têm, e que são diferentes de um para o outro?"





Afinal, o que é o autismo?


O autismo é definido como uma perturbação do desenvolvimento infantil, que se prolonga por toda a vida. Embora a maioria sofra de algum grau de atraso cognitivo, existem indivíduos com quocientes de inteligência elevados - situação que se repete no Síndroma de Asperger, perturbação da família do autismo, em que a parte intelectual não está comprometida.



Os autistas batem-se com problemas de comunicação e linguagem (estima-se que 50% não cheguem a falar), interacção social, pensamento e comportamento. A criança autista tem uma tendência marcada para se isolar ou interagir de forma desadequada. Prefere o silêncio e quando comunica, não o faz de uma maneira empática ou afectiva: não fala ‘com' alguém, mas ‘para' alguém, sobre as suas necessidades imediatas, por exemplo. Gosta de rotinas e repetições, resiste à mudança - um corte de cabelo novo ou uma mudança de itinerário no caminho para casa podem ser problemáticos. Não consegue usar os jogos de faz-de-conta, a imaginação. Muitos têm hipersensibilidade aos estímulos sensoriais, como sons fortes, texturas, gostos - o que pode acarretar grandes dificuldades de alimentação. Muitos autistas têm uma excelente capacidade para memorizar mecanicamente.



Uma em cada mil crianças nasce com autismo, segundo um estudo canadiano de 2003 levado a cabo no Canadá. Em Portugal, os números são idênticos (dados de 2006). Existem quatro e cinco rapazes afectados por cada rapariga.



Na Síndrome de Asperger o número sobe para oito rapazes para cada menina. As causas para ambas as perturbações não estão totalmente esclarecidas, mas sabe-se que existe uma forte predisposição genética. Pensa-se que alguns factores pré-natais - doenças como a rubéola materna ou o hipertiroidismo - e pós-parto - prematuridade do bebé, baixo peso ao nascer, traumatismo no parto, infecções neo-natais graves possam também ter alguma influência. Segundo a APPDA, o número de casos aumentou nos últimos 20 anos, o que significa que a razão pode não se ficar pelos genes.





"Asperger: Não está na cara, mas existe"


Quando o Nuno era bebé, a sua rigidez muscular despertava alguma preocupação à mãe, Piedade. "Mudar as fraldas era um castigo. Mas era muito calmo, quase não chorava, um ‘come e dorme'. Era justamente isso que me preocupava. Quando estava a aprender a falar, e não conseguia verbalizar correctamente, mordia-se e flagelava-se."



Aos dois anos e meio, diagnosticaram-lhe um pequeno défice cognitivo, mas só sete anos depois surgiu o diagnóstico que lhe apontava características de Síndroma de Asperger (SA). "O Nuno não é um Asperger puro; também tem características de um autista de alta funcionalidade." Piedade bateu-se imediatamente por uma terapeuta da fala, que acompanhou o filho dos 3 aos 9 anos, e nunca se rendeu a diagnósticos redutores. "Foi um choque mas, talvez pelo facto de ter católica, nasceu-me uma força que me convenceu de que não ia ser isto que me iria derrotar. No princípio, o que mais me custou foi não saber como fazer respeitar o meu filho e adquirir esta força, que vamos dando um ao outro, para ultrapassarmos as dificuldades dele. Partia para as batalhas preparada com todos os argumentos e não valia a pena dizerem-me que não", diz esta mãe, que é casada e tem mais uma filha de 19 anos.



Hoje o Nuno acompanha as aulas do 7.º ano e Piedade é a mentora da Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA). Com 250 associados em todo o país, faz este mês cinco anos. "A APSA nasceu com o intuito de explicar e desdramatizar a SA, que é a forma mais ténue no longo espectro do autismo. O Asperger não está na cara, mas existe. Estes são os meninos que, à partida, consideramos mal-educados, cabeças no ar, os que estão sozinhos no recreio, que não gostam de actividades físicas, os meninos à margem."



A SA diferencia-se do autismo porque não existe atraso no desenvolvimento cognitivo e linguagem. Mas os aspies, como são carinhosamente conhecidos, partilham algumas das dificuldades de comunicação e interacção social dos autistas: uma marcada tendência para o isolamento, o gosto por repetições e rituais rígidos; boa capacidade de memorização mecânica, dificuldade em estabelecer uma comunicação baseada na empatia, em entender linguagem não verbal ou metáforas, apesar do uso da linguagem ser correcto. Os aspies demonstram, também, movimentos desastrados e fixação em cheiros e texturas de objectos. "Costuma dizer-se que aprendem a falar antes de andar, enquanto os autistas aprendem a andar antes de falar", disse Glenis Benson, especialista norte-americana em desordens do espectro do autismo, num seminário promovido a 19 de Setembro, em Lisboa, pela APSA. Por tudo isto, o diagnóstico é mais tardio; geralmente, dá-se quando as crianças já estão na escola primária.





Escolas especiais ou regulares?


As crianças autistas não têm necessariamente de frequentar escolas de ensino especial. Os filhos de Luísa André estão integrados no ensino regular - Alexandre há oito anos, com uma passagem de um ano por um estabelecimento de ensino especial. Luísa pondera os prós e os contras: "Na escola especial eles estariam mais protegidos mas é-lhes roubada a vantagem de conviverem com crianças sem deficiência. E os meus filhos também representam uma experiência fantástica para a escola, em termos de aprendizagem de cidadania para as outras crianças. Por outro lado, a escola pública não tem muitos recursos necessários para ensinar aos autistas competências básicas, como a autonomia nas acções do dia-a-dia."



O ensino público tem escolas de referência para autistas e Aspergers. Na escola de Francisco e Alexandre há mais sete crianças autistas e outras sete com Síndroma de Asperger. Ambos estão integrados em turmas regulares, mas estudam numa sala separada e partilham uma aula por semana com os seus colegas não deficientes - a de educação física. Não acompanham o programa escolar dos seus colegas mas transitam de ano com eles - não se espera que tenham o mesmo rendimento escolar mas que interajam.



Do outro lado do espectro autista, a APSA promove acções de sensibilização nas escolas - o ‘Projecto Gaivota' - para ajudar colegas e professores a lidar e comunicar com os alunos aspies. "Há pais que não querem nem que sonhe com o facto dos filhos terem esta síndrome", diz Piedade Monteiro..



É raro que estas crianças venham a encontrar uma profissão, devido aos seus problemas de comunicação e sociabilização, "mas se trabalharem naquilo que gostam são os melhores funcionários", observa Piedade. "Há um trabalho enorme a ser feito com toda a sociedade. É preciso bater às portas de empresas e da consciência social." Um dos projectos da APSA é a criação de ateliês que possam servir de pólo de formação profissional e geradores de empregos para os jovens com Asperger. As parcerias com as empresas seriam parte do processo. "Em vez de massacrarmos os nossos filhos com as notas, a física e a matemática, devemos acautelar o seu bem-estar pessoal e social."



Autismo: Primeiros sinais


Apesar de ser difícil diagnosticá-lo antes dos dois ou três anos, há características comuns a muitos bebés autistas, descritas no site da Associação Portuguesa de Perturbações do Desenvolvimento e Autismo. No entanto, cada criança é um caso.

- Pode demonstrar indiferença pelas pessoas, ambiente ou medo de objectos.

- Problemas de alimentação e de sono.

- Pode chorar muito sem razão aparente ou, pelo contrário, nunca chorar.
- Repetição de movimentos, quando começa a gatinhar: bater palmas, rodar objectos, mover a cabeça de um lado para o outro.

- Ao brincar, não consegue usar o jogo de faz de conta. Não interage com os outros e pode não saber responder aos desafios ou brincadeiras.

- Não utiliza os brinquedos na sua função própria. Um carro pode ser um instrumento de arremesso.





Contactos Úteis:

Associação Portuguesa de Síndroma de Asperger:

tel.: 214 605 237 / 961 041 214; http://www.apsa.pt/..

Federação Portuguesa de Autismo:

www.appda-lisboa.org.pt/federacao , tel.: 21 361 62 50







Autismo, Síndrome de Asperger

segunda-feira, 8 de março de 2010

Biólogo vê origem do autismo em célula

07/03/2010 - 11:12
Biólogo vê origem do autismo em célula
Folha de São Paulo
Um experimento com cultura de células está mostrando como alterações genéticas em neurônios podem levar alguém a adquirir autismo.

Um grupo da UCSD (Universidade da Califórnia em San Diego) extraiu tecido da pele de crianças portadoras desse transtorno e conseguiu convertê-lo em neurônios, para simular o desenvolvimento embrionário do cérebro. Ao compará-las com outras feitas a partir de crianças normais, os biólogos viram que algo estava errado.

Como o autismo é uma doença que se nota tarde no desenvolvimento de um bebê, em geral a partir de um ano, poucos cientistas esperariam ver problemas em neurônios de estágios iniciais. Mas o biólogo brasileiro Alysson Muotri acaba de testemunhar isso na UCSD, onde, aos 36 anos, dirige um laboratório de ponta em sua área de pesquisa.

"Começamos a perceber que o tamanho do neurônio perto do núcleo é menor, e também que a ramificação de terminais que existe em neurônios normais não existe no caso dos autistas", disse o cientista à Folha. "É uma coisa morfológica."

Como nem sempre o autismo tem uma relação clara com histórico familiar, os cientistas têm tido dificuldade para achar genes determinando propensão forte à doença. Muitos casos são "esporádicos" e não está claro ainda quais trechos do DNA são realmente importantes na geração da moléstia.

Mesmo não dispondo dessa informação, porém, o grupo de Muotri conseguiu demonstrar o forte lado genético da doença.

Células reprogramadas

Em seu laboratório, Muotri trabalha com as chamadas iPS -as células-tronco de pluripotência induzida-, uma invenção recente na biologia experimental. Diante da dificuldades técnicas e éticas de trabalhar com células de embriões humanos, cientistas criaram uma maneira artificial de reverter células adultas ao estágio embrionário.

É isso que Muotri faz com material extraído da pele de pessoas ou cobaias antes de transformá-lo em neurônios.

O paulistano trabalhou inicialmente com células derivadas de crianças com síndrome de Rett. A doença tem vários sintomas, sendo o autismo um deles. Esse transtorno foi escolhido porque tem uma causa genética já conhecida, uma mutação no gene MECP2. Depois, estendeu a pesquisa a outras síndromes de caráter autista e, por fim, usou células de crianças com autismo "esporádico", sem origem genética clara.

Todas pareciam ter o mesmo problema morfológico. "Isso significa que o autismo começa a se desenvolver já no embrião", diz Muotri, que à vezes encontra dificuldades em convencer outros cientistas de sua descoberta. "Já me perguntaram: "Como você pode afirmar que uma doença é genética se você não conhece o gene?"."

Genes saltadores

Uma mutação que afete o sistema nervoso, porém, não necessariamente afeta o aparelho reprodutor de um indivíduo, diz Muotri, por isso a doença pode ter origem no DNA sem ser estritamente hereditária. E o cérebro, nos humanos, está particularmente sujeito à ação dos chamados transpósons --genes que "saltam" de uma célula a outra, criando diversidade genética entre neurônios.

Como a ação dos transpósons é influenciada pelo ambiente, há um indício a mais de que ela pode ter relação com o autismo, também ligado a fatores ambientais e de desenvolvimento.

Como esse campo de pesquisa, além de levantar controvérsia, é ultraconcorrido, Muotri diz que tem procurado replicar seus experimentos o máximo que pode para dar credibilidade aos resultados. Por isso, nenhum estudo sobre as células iPS com DNA de crianças autistas foi publicado ainda em um periódico científico auditado.

Agora, além de produzir células em cultura para observação, o laboratório do cientista está produzindo "circuitos neurais". Emendando células em série, Muotri e seus colegas tentam verificar como neurônios derivados de crianças autistas se comportam quando estão interligados em rede.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sismo do Chile desviou o eixo da Terra - Ciências - PUBLICO.PT

Sismo do Chile desviou o eixo da Terra - Ciências - PUBLICO.PT

O sismo de 27 de Fevereiro no Chile que matou mais de 700 pessoas terá feito os dias na Terra mais curtos – embora imperceptivelmente, apenas 1,26 milionésimos de segundo mais curtos. Mas o eixo de rotação do planeta ter-se-á deslocado cerca de oito centímetros, em resultado do abalo de magnitude 8,8 na escala de Richter.

Estes cálculos são produto de um modelo informático usado pelo geofísico do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA Richard Gross. E não são algo inédito, que apenas tenha acontecido com este tremor de terra: estes efeitos acontecem quando se verificam grandes deslocações de massa no planeta.

Por exemplo, no terramoto de 9,1 na escala de Richter de Sumatra e no tsunami do Sudoeste Asiático que se lhe seguiu, a 26 de Dezembro de 2004, o dia terá diminuído 6,8 milionésimos de segundo e o eixo da Terra (a linha imaginária em torno do qual a Terra roda sobre si própria) ter-se-á deslocado sete centímetros.

Fala-se sempre no condicional porque é difícil verificar experimentalmente estas previsões feitas através de cálculos computadorizados. As mudanças são demasiado pequenas para serem detectadas em termos físicos, sublinhou Richard Gross ao site Bloomberg News.

Mas se são pequenas, as alterações são também permanentes, comentou ao Bloomberg Benjamin Fong Chao, reitor da Faculdade de Ciências da terra da Universidade Nacional central de Taiwan. “Esta pequena contribuição fica enterrada em mudanças mais vastas devido a outras causas, como o movimento de massas atmosféricas à volta da Terra”, explicou.

E por que é que o sismo do Chile, tendo uma magnitude mais reduzida que o de Sumatra, deslocou o eixo em oito centímetros, enquanto o de Sumatra se ficou por sete? “Primeiro, o de Sumatra localizou-se perto do Equador, e o do Chile numa latitude média, o que o torna mais eficiente a desviar o eixo da Terra”, diz o comunicado da NASA que dá a conhecer os resultados de Gross. “Em segundo lugar, a falha [geológica] responsável pelo sismo de 2010 mergulha na Terra num ângulo mais agudo do que o de 2004. Isto faz com que a falha do Chile seja mais eficaz a mover a massa da Terra verticalmente e, assim, a desviar o eixo da Terra.”