"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Mãe escreveu fábula para explicar autismo do filho aos amigos

Mãe escreveu fábula para explicar autismo do filho aos amigos
Quinta, 17 de Dezembro de 2009 15:36

A necessidade de explicar as diferenças do filho, uma criança autista, levaram Paula Antunes a escrever a fábula ‘No Mundo da Lua?... Talvez Não...’, hoje apresentado na Escola Básica de Aranguez, em Setúbal. “A história nasceu da necessidade que eu tinha de explicar aos colegas do meu filho, os motivos pelos quais o José Pedro era diferente. Eu ia inventando e contando histórias, colocava-me no papel dos animais, e os miúdos iam percebendo”, disse à Lusa Paula Antunes.
A nova escritora é mãe do José Pedro, um menino de 13 anos com o Síndrome de Asperger, uma doença com algumas semelhanças com o autismo, mas em que as crianças apresentam boas capacidades cognitivas. “É uma fábula muito simples, escrita especialmente para as crianças compreenderem o que é esta problemática”, disse, deixando perceber pontos comuns entre a fábula que escreveu e a sua história de vida. Segundo Paula Antunes, a história começa quando uma das personagens, a Dona Josefa, se apercebe que o seu filhote, o Pedrocas é diferente, não fala, não brinca com os outros, anda sempre de cabeça na lua e só quer saber de plantas.
Apesar das diferenças que o condicionam, o Pedrocas acaba por ganhar o respeito de todos os animais da quinta ao salvar uma vida. Além da história, que pretende sensibilizar a comunidade para a problemática das crianças autistas, o livro incluiu também um conjunto de desenhos de Afonso Sobral, um jovem com dificuldades profundas, mas que, mesmo assim, consegue transportar-nos ao mundo do autismo.
A receita da venda do livro ‘No Mundo da Lua?... Talvez Não...’, patrocinado pela Câmara de Setúbal, reverte integralmente para a APPDA - Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo, de Setúbal.

http://ultimahora.jornaldamadeira.pt/index.php?/pt/noticias/200912175877/noticias/nacional/mae-escreveu-fabula-para-explicar-autismo-do-filho-aos-amigos.html

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Intervenção ABA em crianças autistas chega a Lisboa

O Centro ABCReal Portugal, em parceria com o Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças, inicia Programa de Intervenção ABA em crianças autistas dos 7 aos 12 anos de idade, na cidade de Lisboa.

Este programa lançado em Fevereiro, na Costa da Caparica, com um percurso de sucesso já realizado, tem a oportunidade de chegar a Lisboa, através do apoio do Centro de Desenvolvimento Diferenças.

A intervenção ABA em crianças autistas dos 7 aos 12 anos tem a duração de 10 horas semanais (das 17h30 às 19h30/20h00, todos os dias da semana) e exerce-se fundamentalmente no domínio da Autonomia, Comunicação e Sociabilização.

Um programa que, depois da escola, ajuda as crianças a melhorar o desempenho em áreas que são mais complicadas, através de uma intervenção terapêutica intensiva providenciada pelo ABA.

DIFERENÇAS

Fundo caixa fã - Outras causas já apoiadas
1º Semestre 2009
aPPT21

Centro de Desenvolvimento infantil e Diferenças

É com vontade de criar um excepcional projecto de vida para todas as crianças com Diferenças, que a equipa da Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21(APPT21) e do seu Centro de Desenvolvimento Infantil DIFERENÇAS tem vindo a desenvolver desde 1990 um trabalho único do ponto de vista do apoio clínico, terapêutico, escolar e social.

O Centro dá apoio indirecto a mais de 9.000 crianças e directo a mais de 1.200 em todo o país, bem como a formação aos cerca de 100 profissionais que actualmente constituem o universo APPT21/DIFERENÇAS.

São, sem dúvida, o grande Centro de Desenvolvimento Infantil do país e um dos melhores e mais avançados da Europa uma vez que têm os Técnicos que melhor estão preparados para trabalhar com crianças com necessidades educativas Especiais.

A deficiência é, indubitavelmente, um dos maiores dramas que se abatem sobre a espécie humana, em grande parte devido à inexistência de eficazes estruturas de apoio.

Projecto

Desenvolvimento de Aplicação Informática para a (re)-educação da Leitura na Língua Portuguesa:

Este software tem como objectivos primários:

(Re)educação das competências de leitura em crianças com Perturbação Específica da Aquisição Académica da Leitura (Dislexia);
Prevenção e ensino das competências leitoras em crianças em idade pré-escolar e escolar (1º e 2º Ciclos do Ensino Básico)
Esta aplicação, cuja ideia e conteúdos científicos são da inteira responsabilidade de Técnicos da APPT21/Diferenças com uma grande experiência nesta área torna-se pertinente pois:

São vários os autores que definem a idade óptima para a aprendizagem da leitura entre os 5 e os 7 anos de idade, período a partir do qual, quer a aprendizagem, quer a reeducação da leitura se tornam processos morosos e laboriosos, tanto para as crianças, como para os (re)educadores;
Por outro lado a inexistência de metodologias estruturadas e adequadas em suporte informático, no nosso país e em países lusófonos tornará a APPT21/Diferenças pioneira nesta área da intervenção;
As evidências científicas da importância da intervenção precoce, multissensorial e fonológica na (re)educação de crianças em risco (identificado ou não) de dificuldades de aprendizagem da leitura são sempre referenciadas pela maioria dos estudos de investigação.
Esta aplicação informática encontra-se já em fase de construção e tem um orçamento estimado de 224.316,00 euros.

Contactos
Centro de Desenvolvimento Infantil
Centro Comercial da Bela Vista
Av. Santo Condestável, Via Central de Chelas
1900-806 CHELAS
Telf.: 21 839 42 22
Fax: 21 837 17 12
www.diferencas.net
geral@diferencas.net


O Fundo Caixa Fã apoiou estes desenvolvimentos, com a verba de 30.000,00 euros.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Autismo: tratamento precoce traz benefícios

Um estudo pioneiro da Universidade de Washington publicado, na terça-feira
(1), na revista “Pediatrics” destacou a importância do tratamento precoce do autismo em bebês e traz informações valiosas para quem lida com esse problema. O estudo revela que bebês com transtornos do espectro autista podem ter ganhos de comunicação, de interação social e de QI quando submetidos a uma intervenção intensiva a partir dos 18 meses de idade.

A pesquisa envolveu 48 crianças com 18 a 30 meses, separadas em dois grupos. Um deles recebeu 20 horas de um tratamento chamado ESDM (Early Start Denver Model) e cinco horas de terapia aplicada pelos pais, por semana. O grupo de controle foi encaminhado para terapia em centros comunitários de Seattle (EUA). Ao fim dos dois anos de estudo, o QI das crianças do grupo submetido ao ESDM subiu, em média, 18 pontos, em comparação a 4 pontos entre as do grupo de controle. Sete crianças apresentaram uma melhora global significativa o bastante para que recebessem um diagnóstico mais leve.

Para o psiquiatra Estevão Vadasz, coordenador do Projeto de Autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, o trabalho é original ao revelar eficiência em uma faixa etária infantil mais baixa. “Sabe-se que, quanto mais cedo se tem o diagnóstico, melhor, mas ninguém tinha feito um estudo grande assim.”

O médico defende o tratamento precoce “o mais urgente possível”. “É muito
mais barato investir quando a criança é pequena do que gastar bilhões com adultos e adolescentes, quando não se tem praticamente nada a fazer.”

Diagnóstico

Segundo o chefe do Departamento de Neurologia Infantil da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Luiz Celso Vilanova, nem sempre é possível, aos 18 meses, diagnosticar o autismo infantil. “Mas posso colocar no grupo de distúrbio invasivo do desenvolvimento (dificuldade
de interação social e de comunicação e um repertório restrito de interesses e atividades, como o autismo), quando a criança tem comprometimento de linguagem, de habilidades motoras e comportamentos repetitivos.

O diagnóstico depende ainda do acesso aos serviços de saúde. “Em famílias
mais ricas, tenho visto aos dois anos. Nas famílias de baixa renda, há casos de crianças de cinco anos sem diagnóstico, que terão muito menos ganhos do que se tivessem iniciado o trabalho antes.”

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Raríssimas

Raríssimas

Estudo dos EUA constata que tratamento de autismo em bebês é eficaz

Medicina
Estudo dos EUA constata que tratamento de autismo em bebês é eficaz
30 de novembro de 2009



O tratamento de autismo se mostra mais eficaz quanto mais cedo for iniciado. Um estudo realizado nos Estados Unidos constatou resultados animadores em crianças diagnosticadas com a doença e que começaram a ser tratadas de forma mais rigorosa a partir do 1º ano de vida.


Um grupo de pesquisadores da Universidade de Washington concluiu que o tratamento pode amenizar muito os sintomas da doença. Foram avaliadas 48 crianças autistas, entre 1 ano de meio e 2 anos e meio.

Um grupo foi selecionado aleatoriamente para receber um tratamento especializado, conhecido como Early Start Denver, focado na interação e na comunicação - as maiores dificuldades das crianças autistas. A outra parte era atendida de forma menos abrangente e intensa.

Em uma das etapas ao que o primeiro grupo foi submetido, os pais e terapeutas seguram repetidamente brinquedos muito próximos ao rosto da criança, para que ela seja obrigada a manter contato visual. Em outro exercício, a criança é recompensada por usar palavras para pedir brinquedos. Foram quatro horas de atenção dos terapeutas durante cinco dias na semana, e o tratamento era repetido em casa, com os pais, por pelo menos mais cinco horas semanais.

Resultados - Depois de dois anos, o Quociente de Inteligência (QI) das crianças do primeiro grupo subiu, em média, 18 pontos, enquanto os que foram submetidos a outros tratamentos tiveram aumento médio de sete pontos. Reavaliados, quase 30% do grupo foi diagnosticado com uma variação menos severa do autismo, contra apenas 5% do outro grupo. Os pesquisadores ressaltam, entretanto, que nenhuma criança foi "curada".

O tratamento cada vez mais cedo do autismo, apesar de receber atenção especial dos especialistas, continua sendo um assunto controverso, já que são escassas as evidências rigorosamente comprovadas de que esse tipo de tratamento realmente funciona. Mesmo assim, o recente estudo é de grande importância e representa uma marco na área, afirmou Tony Charman, especialista em autismo do Instituto de Educação de Londres.

Já é possível diagnosticar autismo em bebês

Já é possível diagnosticar autismo
em bebês e há tratamentos que
permitem a muitas crianças levar
uma vida próxima do normal

Medicina
Resgatados da solidão absoluta

Já é possível diagnosticar autismo
em bebês e há tratamentos que
permitem a muitas crianças levar
uma vida próxima do normal


Anna Paula Buchalla



Fabiano Accorsi

Felipe é atendido pelas psicólogas Leila Bagaiolo (à esq.) e Cíntia Guilhardi. A terapia comportamental tem sido uma ferramenta bastante útil na missão de integrar os autistas à sociedade



"Meu filho Felipe é autista. Ele é um garoto feliz e brincalhão. Mas não foi sempre assim. Quando completou 1 ano e 8 meses, entrou num processo regressivo. Foi perdendo as palavras e as brincadeiras que havia aprendido até então. Era como se eu estivesse perdendo o meu filho." O depoimento é da médica Simone Pires, de 33 anos. Ela chegou a ouvir de um neurologista que Felipe seria incapaz de formar vínculos afetivos e que o melhor seria que o menino ficasse em casa, trancado em seu próprio mundo. Felipe hoje tem 5 anos. Freqüenta a escola, tem amigos, pratica natação. Desde os 2 anos, submete-se a um tipo de terapia comportamental, a ABA (sigla em inglês para Análise Aplicada do Comportamento), criada para tirar o autista do isolamento em que vive e promover a sua inclusão na sociedade. Por meio dela, ensina-se o autista a desenvolver habilidades, como brincar e interagir com amigos, olhar nos olhos de quem lhe fala, demonstrar afeto. Recentemente, para aplacar a angústia da avó depois de um susto, Felipe beijou-a e disse: "Passou. Passou". Até pouco tempo atrás, esse comportamento seria inimaginável para um autista. O progresso de Felipe é resultado dos avanços conquistados no diagnóstico e no tratamento do distúrbio, sobretudo na última década.

Hoje é possível saber se uma criança de 3 meses sofre de autismo, um tipo de perturbação que faz com que ela não interaja com o mundo exterior. O diagnóstico é feito por intermédio de testes de comportamento e questionários respondidos pelos pais. Quanto antes iniciado o tratamento, melhores são os prognósticos. Algumas crianças respondem melhor, outras nem tanto, mas sempre haverá algum ganho com a intervenção precoce. Em alguns casos, como o de Carolina, de 4 anos, o sucesso é praticamente completo. Do silêncio e da reclusão absoluta em que viveu até um ano e meio atrás, a menina passou a conversar com fluência impressionante. Seu desenvolvimento cognitivo e social a levou a níveis bastante próximos dos de uma criança sem problemas.



Carol do Valle
CRIANÇA FELIZ
Carolina é um caso exemplar do sucesso da intervenção precoce. Há dois anos, ela não falava nem fazia contato visual. "Eu podia chorar na frente dela que minha filha não esboçava nenhuma reação. Fui logo procurar ajuda, mas não foi fácil no começo. Cheguei a ouvir de um pediatra que o problema era meu e não dela", diz Luciana, sua mãe. Em tratamento desde então, Carolina é hoje, aos 4 anos, uma criança feliz, que brinca, conversa, tem amigos e freqüenta a escola

Dos sinais que permitem identificar o distúrbio em crianças muito pequenas, o mais claro é a esquiva: elas evitam olhar nos olhos dos pais e não dão nem gostam de receber carinho, o que os especialistas chamam de obstrução na circulação do afeto. No entanto, a maioria dos pais só costuma notar que há algo errado por volta de um ano e meio. É quando se percebe uma defasagem no nível de linguagem da criança ou fica claro que ela evita brincar com outros meninos e meninas. O autismo leva a criança a viver num mundo em que não existe a noção de fantasia. As brincadeiras de faz-de-conta, essenciais ao desenvolvimento intelectual, porque ajudam a criar as sinapses necessárias à aquisição de conceitos abstratos, não fazem parte de seu universo. Uma caneta na mão de uma criança autista jamais viraria um microfone, por exemplo. "Quando é o primeiro filho, é muito difícil identificar os sintomas, já que não se tem parâmetros de comparação dentro de casa", diz Penélope, mãe de Isabela, de 4 anos, e de João, de 1 ano e 5 meses. "Se o meu caçula tivesse nascido primeiro, com certeza eu teria identificado o autismo de Isabela bem antes."

Além do comprometimento da linguagem verbal, da dificuldade de interagir socialmente e das alterações de comportamento, o autista repete incessantemente uma mesma atividade. Os especialistas acreditam que se trata de uma forma de eles se certificarem da própria existência. O autismo pertence a uma classe de distúrbios conhecida como transtornos globais do desenvolvimento, que inclui também a síndrome de Asperger, um problema que costuma ser confundido com o autismo, por apresentar sintomas muito parecidos. A diferença é que os portadores de Asperger não apresentam déficit de linguagem e, nos casos extremos, têm capacidade de memorização bem acima da média – como o personagem de Dustin Hoffman no filme Rain Man.

Passados mais de sessenta anos desde que foi descrito pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner, o autismo ainda não tem suas causas inteiramente esclarecidas. Supõe-se que haja um componente genético. Pesquisas indicam que o distúrbio tende a ser mais freqüente entre filhos de matemáticos, físicos ou engenheiros – pessoas dotadas de grande raciocínio lógico. A partir desse dado, alguns especialistas deduzem que os autistas contam com um cérebro radicalmente "masculino". Ou seja, com estruturas voltadas exclusivamente para o lado da racionalidade, em detrimento daquelas ligadas a aspectos emocionais. A reforçar essa tese, para quatro meninos com o problema, há apenas uma menina na mesma condição. O que se tem por certo é que algumas conexões neurais do cérebro de um autista são falhas. O trabalho mais recente sobre o assunto foi divulgado na semana passada por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Por intermédio de exames de imagem, eles mostraram que essas conexões inadequadas comprometem a comunicação entre diversas áreas cerebrais. "Acredito que, com os progressos da neurociência, nos próximos dez anos haverá ganhos substanciais no conhecimento desse distúrbio", afirma o psiquiatra Marcos Mercadante, da Universidade Federal de São Paulo.

Ao mesmo tempo em que antidepressivos e remédios contra a hiperatividade ajudam com sucesso a controlar determinados sintomas, a melhor forma de tratar o autismo é tentar integrar o paciente ao mundo. Para que isso aconteça, ele tem de ter à sua disposição, desde cedo, uma equipe multidisciplinar formada por neurologista, psiquiatra, psicólogo e fonoaudiólogo, entre outros. "Dessa forma, antes de começar a freqüentar a escola, a criança é estimulada a entender esse novo universo, onde há outras crianças, regras a ser seguidas e muito trabalho a ser feito", explica a psicóloga Cíntia Guilhardi, da Clínica Gradual, que adotou o método ABA. Como se fosse um SOS Babá, uma terapeuta vai à casa do paciente, faz um trabalho com os pais e acompanha o dia-a-dia da criança, inclusive dentro da sala de aula. Além de ter de se adaptar à nova rotina da filha, Luciana, mãe de Carolina, precisou vencer preconceitos. "A mãe de uma coleguinha não queria mais que elas andassem juntas porque disse que sua filha estava regredindo por causa de Carolina", conta ela. Ainda há um bom trato de ignorância a ser vencido. "A convivência social é importantíssima para quem sofre da perturbação. Um dos principais fatores de estímulo para uma criança autista é outra criança, especialmente se for da mesma escola", diz o psiquiatra e psicoterapeuta infantil Wagner Ranna, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, em São Paulo. No livro Mãe, Me Ensina a Conversar, recém-lançado pela editora Rocco, a carioca Dalva Tabachi, mãe de Ricardo, hoje com 25 anos, aponta também as dificuldades de quem tem uma criança com o problema: "Às vezes a família esconde o filho especial, diferente, tentando evitar a discriminação e o preconceito. Mas a fuga não é o caminho certo".

Uma das maiores fontes de angústia para os pais de uma criança autista é a incerteza sobre o futuro do seu filho. Enquanto pais de meninos e meninas saudáveis conseguem prever a evolução de seus pequenos, os pais de quem apresenta o problema tateiam no escuro, já que cada caso tem suas particularidades. Sem contar o impacto em toda a família. Muitos casais se separam, enquanto outros abandonam a idéia de mais um filho. "Ter o Danny é como ter o stress de um recém-nascido permanentemente em casa", disse o escritor inglês Nick Hornby, cujo filho de 13 anos é autista, em entrevista ao jornal The Guardian. As perguntas que os pais mais fazem aos especialistas são: "O que acontecerá ao meu filho? Ele poderá ter uma vida normal?". Em que pesem todos os avanços, o prognóstico é incerto, dependendo do grau do distúrbio, das peculiaridades de suas manifestações, do tipo de assistência que a criança recebe e do ambiente em que ela vive. "A única forma de sobreviver é não se apegar ao que não vai acontecer. É viver dia após dia, saboreando o prazer de estar com seu filho", diz Hornby. Não se deve, portanto, suprimir o presente, que é o tempo em que todos – autistas ou não – vivem de verdade.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A modelo Heather Kuzmich é Asperger.

A modelo Heather Kuzmich é Asperger.
Postado Em 10/18/2008 20:56:21 por LiliBarb





Modelo com doença similar ao autismo destaca-se no 'America's next top model'
Heather Kuzmich tem dificuldade de socialização e é alvo de piadas das outras meninas.
Desajeitada e direta, ela conquistou o coração do público americano.


Heather Kuzmich tem a desordem neurológica conhecida como síndrome de Asperger. Ela é socialmente desajeitada, tem problemas para olhar olho no olho quando fala com alguém e às vezes é alvo das piadas das pessoas que moram com ela. Mas o que faz com que Kuzmich, de 21 anos, seja diferente dos outros portadores de Asperger é o fato de que seu esforço para conviver com a doença esteja sendo exibido em cadeia nacional nos EUA nas últimas 11 semanas. Ela é uma das 13 jovens selecionadas pela supermodelo Tyra Banks para competir no popular reality show “America´s Next Top Model”.

A adição de Heather Kuzmich a um programa que normalmente seria superficial deu a milhões de telespectadores uma visão incomum e fascinante do mundo pouco compreendido do Asperger. O problema, considerado uma forma de autismo, caracteriza-se por interação social e habilidades de comunicação fora do comum.

Os "aspies", como as pessoas com a doença se auto-intitulam, com freqüência têm inteligência normal ou acima da média, mas têm problemas em fazer amigos e não têm a habilidade intuitiva para avaliar situações sociais. Elas também não conseguem fazer contato olhando nos olhos de outra pessoa e com freqüência apresentam uma fixação em alguma idéia, algo que pode acabar se tornando bizarro ou brilhante. Por definição, as pessoas com Asperger estão fora do comum.

Mesmo assim, em meses recentes, a síndrome ganhou lugar de destaque. “Look me in the eye” (“Olhe nos meus olhos”), um livro de memórias sobre a vida com Asperger escrito por John Elder Robison, que já criou efeitos especiais para bandas como o Kiss, se tornou um best seller. Em agosto, o crítico musical vencedor do prêmio Pulitzer, Tim Page, escreveu um comovente artigo para o "The New Yorker" sobre a vida com Asperger não-diagnosticado.

Robison afirma que o apelo popular dessas histórias talvez se deva, em parte, à tendência que as pessoas com Asperger têm de ser dolorosamente diretas -– elas não tem o filtro social que impede que outras falem o que lhes passa pela cabeça. “É importante porque o mundo precisa saber que existem enormes diferenças de comportamento humano”, disse Robison, cujo irmão é o escritor Augusten Burroughs.

“As pessoas estão muito dispostas a descartar alguém porque essa pessoa não responde como elas gostariam. Eu acho que livros como o meu transmitem ao mundo a mensagem de que cabe mais a nós do que a eles fazer isso”.

Mas, enquanto Robison e Page contam a história sobre conseguir conviver coma doença a partir da perspectiva de homens com 50 anos, Heather Kuzmich está apenas começando sua vida adulta com o problema. E é muitas vezes doloroso assistir sua transição de uma adolescente socialmente desajeitada para uma adulta socialmente desajeitada.

Uma talentosa estudante de artes de Valparaíso, Indiana, ela tem uma aparência esbelta e angulosa que é perfeita para a indústria da moda. Mas sua beleza não encobre os desafios representados pela síndrome de Asperger. O programa exige que ela more numa casa com mais 12 aspirantes a modelo e ali os comentários maliciosos e críticas pelas costas são comuns. Logo no início do programa, ela parece socialmente isolada, as outras meninas cochicham sobre ela de modo que Heather possa escutar e o público pode ver a jovem portadora de Asperger chorando ao telefone em conversa com sua mãe.

Uma das meninas fica frustrada porque Heather, concentrada em arrumar sua mala, não ouve um pedido para que saia da frente. Em dado momento, as outras riem quando escolhem suas camas e Heather fica sem lugar pra dormir. “Eu gostaria de entender a piada”, lamenta Heather. “Você. Você é a piada”, retruca outra modelo, Bianca, uma estudante universitária de 18 anos que é de Queens, Nova York.

Mas, ao mesmo tempo em que os estranhos maneirismos de Heather a separam das moças que moram com ela, essas características acabam se traduzindo em um estilo fashion ultra moderno em suas sessões de fotos. Em entrevistas para televisão, ela muitas vezes olha para o lado, incapaz de estabelecer um contato olho no olho. Mas Tyra Banks, a modelo dos anos 60 Twiggy e o fotógrafo Nigel Barker, que aparecem no programa de TV, ficam impressionados com a habilidade que a jovem tem de fazer contato com câmera.

O pop star Enrique Iglesias ficou tão encantado com sua aparência que a escolheu para um papel em seu próximo vídeo clipe. Em uma entrevista na semana passada, Kuzmich minimizou o conflito com as outras participantes, dizendo que conversas muito mais “civilizadas” ocorreram nos bastidores sem que fossem transmitidas. “Elas não tiraram tanto sarro assim de mim”, disse ela.

Ela fez teste para o show, explicou a modelo, em parte para testar seus próprios limites. “Foi uma época de minha vida em que pensei: ou Asperger vai definir quem eu sou ou serei capaz de contornar o problema”, disse ela.

Para sua surpresa, ela foi votada como a favorita dos telespectadores ao longo de oito semanas seguidas, fazendo com que fosse uma das concorrentes mais populares do show em quatro anos e meio de história. “Estou acostumada com as pessoas meio que me ignorando”, disse ela em entrevista. “No início eu estava preocupada por achar que ririam de mim porque sou tão esquisita. Mas tive a reação exatamente oposta”.

Heather chegou ao grupo das “top five”, mas se confundiu com sua fala na hora de filmar um comercial. Mais tarde, ela ficou completamente perdida em Pequim e conseguiu encontrar apenas um dos cinco estilistas. Ela foi eliminada na semana passada, mas desde então já apareceu nos programas “Good Morning America” (“Bom Dia América”) e no “Access Hollywood” (“Acesso a Hollywood”). Ela diz que espera continuar sua carreira de modelo e se tornar uma porta-voz nacional para a causa dos portadores de Asperger.

“Eu não tinha idéia de que isso seria algo tão grande”, declarou ela. “Minha mãe está muito entusiasmada. Ela viu que quando eu era criança não tinha amigos e acompanhou meu esforço. Ela está feliz que as pessoas agora estão começando a compreender isso.”