"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CURSO BÁSICO SOBRE PERTURBAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

29 A 30 DE MAIO EM VIANA.
http://www.nasturtium.com.pt/documentos/inscricao/prog_curso_viana_2009_gcu.pdf

1º Congresso Internacional sobre Perturbações do Desenvolvimento

1º Congresso Internacional sobre Perturbações do DesenvolvimentoTema: Perturbações do Desenvolvimento da Infância à Idade Adulta
Local: Centro de Congressos do Estoril
Data: 25 a 28 de Março de 2009

O Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil organiza este 1º Congresso Internacional onde Especialistas nacionais e estrangeiros abordarão temas relacionados com as diversas perturbações do desenvolvimento, contando com a participação especial de António Damásio. As sessões pretendem ir ao encontro dos interesses de pais, professores e profissionais de saúde. As inscrições são enviadas para congressos@cadin.net, após preenchimento da ficha de inscrição disponível em http://www.cadin.net/

Contactos:
Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil
Estrada da Malveira, Edifício CADIN 2750-782 Cascais
Telm.: 91 935 18 35 / 91 254 04 12
E-mail: congressos@cadin.net
Sítio web: www.cadin.net


http://www.inr.pt/content/1/624/congresso-internacional-sobre-perturbacoes-do-desenvolvimento/

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Pais em part-time?????????

INFÂNCIAS (IN)FELIZES


Maria José Nogueira Pinto
Jurista
A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) apresentou ao Ministério da Educação uma proposta para as escolas do 1.º ciclo do ensino básico funcionarem entre as sete da manhã e as sete da tarde. Uma proposta radical que encerra em si própria a alteração do sentido último da escola e o sentido último da família. Algo que, tendo estado desde há muito subjacente a toda a discussão em torno do modelo de sistema educativo, modelo de escola e objectivos do ensino, surge agora claramente como um facto assumido, não já uma circunstância mas um dado adquirido, o de uma parentalidade em part-time.

Sabemos que muitos pais têm de depositar os seus filhos na escola durante 12 horas porque precisam dessas 12 horas para trabalharem - duplo emprego, biscates, o que seja - único modo de fazer face às necessidades do seu agregado. Mas também sabemos que uma criança confinada a um mesmo espaço durante 12 horas, um espaço que não é a sua casa, o seu habitat, provavelmente não se construirá feliz e equilibrada. Há pois, aqui, um conflito, que nem sequer é novo, e uma proposta, essa sim nova, dos pais, de que seja resolvido a favor de um modelo laboral e social profundamente errado e em desfavor dos filhos.

Os chamados ATL, actividades de tempos livres realizadas fora da escola mas em local adequado para o efeito, já existem há muito em Portugal como uma resposta social para aquelas famílias, que são confrontadas, na sua luta pela sobrevivência, com o dilema de pôr em risco ou o sustento dos filhos ou os próprios filhos. Com esta proposta da Confap transfere-se para a escola o prolongamento do horário, e aquilo que era excepcional e em função de uma circunstância concreta passa agora a ser uma regra assumida e incorporada no próprio sistema educativo. Aqui reside a diferença e a diferença é abissal!

Segundo os dados disponíveis, apenas um terço dos casais com filhos menores de 15 anos recorre a serviços de apoio às crianças, incluindo amas, creches, pré-escolar e ATL. À primeira vista, nada indica pois que uma escola a funcionar 12 horas seja uma necessidade sentida por todos os pais ou, sequer, pela maioria dos pais. Mas, uma vez aprovada uma medida como esta, rapidamente se interiorizará que as 12 horas são o horário escolar diário e que, independentemente das reais necessidades dos pais, por uma simples conveniência ou pura comodidade, o lugar da criança é na escola. A ser assim, não estamos perante uma solução mas perante um gigantesco problema a projectar-se, impiedoso, sobre o futuro de todos.

Primeiro, porque muitos dos problemas actualmente vividos nas escolas têm a sua causa na ideia errada de que estas substituem a família. A escola é meramente complementar, mas vê-se forçada a ir mais longe para compensar as fracas competências parentais que se revelam hoje como transversais à sociedade portuguesa e já não exclusivas de famílias mal estruturadas. Esta situação deve ser mudada e não institucionalizada.

Segundo, porque sendo sempre verdade que nada é tão importante como criar e educar crianças felizes, amadas e capacitadas para fazer face à vida, essa verdade é ainda mais evidente no nosso Inverno demográfico. Por isso, aqueles pais que apesar das suas vidas duras, do seu presente precário e do seu futuro incerto tiveram a coragem de ter filhos, não podem, de modo algum, ser penalizados. E também para isso servem as leis e as políticas públicas: novas formas de organização do trabalho, apoios às famílias, equidade no acesso aos serviços.

A decisão de transformar a escola num depósito, com base em precipitadas análises sociológicas, branqueando os dramas da míngua de afectos, laços e convivência entre pais e filhos, com jogos e brincadeiras escolares, é uma capitulação. As crianças não merecem. Nem as pobres nem as ricas. |


http://dn.sapo.pt/2009/02/12/opiniao/infancias_infelizes.html

Nos Países Nórdicos e mais desenvolvidos e com uma maior produtividade, as crianças não andam na escola das 7h as 19h.

País e crianças as 17h estam em casa.

Ora, andamos a copiar que modelo? o made in China?

Não acham que as nossas crianças passam demasiadas horas na escola?

Vamos lá recapitular.

A criança levanta-se as 6:30, as 7 está na escola, os Pais vam busca-la as 19h, chega a casa, toma banho, janta, enfia-se na cama.

Quando é que os Pais brincam com os filhos? a que horas conversam?
Quando lhe transmitem conhecimentos e os educam?

Ah! já sei. O Papel dos Pais não é esse, é da escola, pois e´já me tinha esquecido.

Amigos, ter filhos e nunca estar com eles e não os educar, não faz de nós Pais.
E depois não me digam que a culpa é do trabalho precário e que é necessario dinheiro para os criar.

O que os nosso filhos precisam, não é de uma televisão, nem de uma palystation, nem da boneca da moda, nem de roupas de marca, nem de um telemóvel, nem de um MP3, nem de um ipod. PRECISAM DE AFECTOS, AMOR, CARINHO, EDUCAÇÃO, REGRAS E ACIMA DE TUDO PRECISAM DA SUA FAMILIA PRESENTE.

A vida é complicada? é sim.

Mas a solução não é fazer das escolas depósitos de crianças.

Se gostamos tanto de emitar o que é estrangeiro, sugiro espreitarem o modelo da Suécia.

Se choco alguém, peço desculpa, mas o meu objectivo como Mãe, é arranjar maneira de estar o máximo de tempo possível com a minha filha,e também tenho trabalho a contrato, e depois? Nós não vivemos para os trabalhos, nós vivemos é do trabalho.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A importância de saber chegar a casa

Para reflectirmos...


> A importância de saber chegar a casa
>
> Mário Cordeiro, pediatra, disse na semana passada numa conferência
> organizada pelo Departamento de Assuntos Sociais e Culturais da Câmara
> Municipal de Oeiras, que muitas birras e até problemas mais graves
> poderiam ser evitados se os pais conseguissem largar tudo quando chegam a
> casa para se dedicarem inteiramente aos seus filhos durante dez minutos.
> Ao fim do dia os filhos têm tantas saudades dos pais e têm uma expectativa
> tão grande em relação ao momento da sua chegada a casa que bastava chegar,
> largar a pasta e o telemóvel e ficar exclusivamente disponível para eles,
> para os saciar. Passados dez minutos eles próprios deixam os pais
> naturalmente e voltam para as suas brincadeiras. Estes dez minutos de
> atenção exclusiva servem para os tranquilizar, para eles sentirem que os
> pais também morrem de saudades deles e que são uma prioridade absoluta na
> sua vida. Claro que os dez minutos podem ser estendidos ou até encurtados
> conforme as circunstâncias do momento ou de cada dia. A ideia é que haja
> um tempo suficiente e de grande qualidade para estar com os filhos e
> dedicar-lhes toda a atenção.
> Por incrível que pareça, esta atitude de largar tudo e desligar o
> telemóvel tem efeitos imediatos e facilmente verificáveis no dia-a-dia.
> Todos os pais sabem por experiência própria que o cansaço do fim de dia,
> os nervos e stress acumulados e ainda a falta de atenção ou
> disponibilidade para estar com os filhos, dão origem a uma espiral
> negativa de sentimentos, impaciências e birras.
> Por outras palavras, uma criança que espera pelos pais o dia inteiro e,
> quando os vê chegar, não os sente disponíveis para ela, acaba fatalmente
> por chamar a sua atenção da pior forma. Por tudo isto e pelo que fica dito
> no início sobre a importância fundamental que os pais-homem têm no
> desenvolvimento dos seus filhos, é bom não perder de vista os timings e
> perceber que está nas nossas mãos fazer o tempo correr a nosso favor.
>
> in Boletim de Julho da Acreditar

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

1ª visita ao Dentista

A minha princesa, foi hoje ao Dentista.
E pela primeira vez, teve que fazer uma limpesa de tartaro.
Como era de esperar, e porque ela não suporta barulhos intensos, assustou-se.
A coitadita lá se aguentou como pode, mas ficou maldisposta e vomitou.
A Dentista marcou nova consulta para terminar a limpesa e recomendou o uso de tampões para atenuar o efeito do barulho.

Vamos ver como reage na consulta seguinte.

Os barulhos, cheiros intensos e texturas moles que se possam colar nos dentes ou céu da boca ela não consegue tolerar.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Bea não tem atraso cognitivo, viva

Ontem foi dia de ir à Dra. Marta, e estiveram a concluir a avaliação que iniciaram na sessão anterior.

Boa noticia, a Bea não revela qualquer tipo de atraso cognitivo.

Agora temos é que trabalhar a sua autonomia e sociabilização.

É bom receber noticias animadoras.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Relação entre a testosterona e o Autismo

Asher Mullard

Reino Unido



As crianças expostas a níveis elevados de testosterona durante a gestação apresentam resultados semelhantes aos de pacientes de autismo, em testes psicológicos. A descoberta oferece sustentação a uma teoria contenciosa sobre a origem da doença, afirmam pesquisadores.

Mas embora a mídia esteja antecipando a possibilidade de testes pré-natais de autismo, os pesquisadores dessa disciplina recomendam cautela, tanto quanto à importância da descoberta quanto com relação à adoção dos exames.

O número de vítimas masculinas de autismo é quatro vezes superior ao de vítimas femininas, e a relação é de nove para um quando se trata de Síndrome de Asperger.

Simon Baron-Cohen, psicólogo do desenvolvimento no Centro de Pesquisa do Autismo na Universidade de Cambridge, Inglaterra, acredita que isso aconteça porque traços associados ao autismo ¿tais como a dificuldade de sentir o que outras pessoas sentem e uma capacidade reforçada de analisar, explorar e extrair as regras subjacentes a sistemas complexos- são manifestações extremas do comportamento masculino normal.

Baron-Cohen e seus colegas reportaram em trabalho publicado pelo British Journal of Psychology que crianças expostas a altas concentrações de testosterona quando fetos têm maior probabilidade de apresentar traços autistas.

E já que altas concentrações de testosterona pré-natais foram associadas a alguns aspectos da capacidade cognitiva masculina, eles alegam que suas descobertas oferecem sustentação à teoria do autismo como "forma extrema do cérebro masculino".

Mas dois comentários publicados na mesma edição da revista demonstram que nem todos os observadores concordam quanto ao valor do estudo ou mesmo com a validade geral da teoria.

A hora do teste
Por mais de uma década, a equipe de Baron-Cohen estudou a correlação entre concentrações de testosterona - medidas em mulheres grávidas que tiveram o fluido amniótico que cerca seus fetos testado para fins médicos- e desenvolvimento, em 235 crianças que não sofrem de autismo.

Os pesquisadores já haviam descoberto que as crianças que foram expostas a concentração elevadas de testosterona fetal exibiam algumas características de adultos com distúrbios autísticos, tais como evitar olhares diretos, desenvolver menos áreas de interesse e estabelecer relacionamentos de mais baixa qualidade.

Agora que as crianças estão em média com nove anos de idade, Baron-Cohen e seus colegas usaram dois questionários para considerar aspectos mais sutis do autismo.

Os questionários perguntavam às mães sobre fatores como a atenção das crianças a detalhes (que é usualmente elevada em pessoas com problemas de autismo) e sua capacidade de perceber o que outras pessoas estão pensando (usualmente baixa nos autistas).

Uma vez mais, eles constataram que, quanto maior a presença de testosterona no ventre, mais parecidos os resultados se tornavam com os de pessoas que sofrem de distúrbios autísticos.

Um cérebro especial?
A psicóloga Kate Plaisted Grant, também da Universidade de Cambridge, considera o estudo "intrigante", mas diz que "ele não estabelece vínculo entre testosterona fetal e o perfil cognitivo do autismo".

Ela diz, por exemplo, que o trabalho não mostra correlação entre a testosterona e a capacidade visual e espacial, uma área na qual os pacientes de autismo em geral são muito capacitados.

Ela tampouco está convencida de que as descobertas sustentem a teoria subjacente. "A comunidade científica mais ampla não aceitou a idéia da forma extrema do cérebro masculino¿, ela diz. A testosterona fetal ¿pode criar um cérebro especial, mas não necessariamente cria um cérebro masculino".

O psiquiatra Laurent Mottron, da Universidade de Montreal, no Canadá, autor de um dos comentários, expressa outras preocupações. Ele enfatiza, especialmente, que porque homens e pessoas portadores de distúrbios autísticos têm resultados semelhantes em questionários sobre o autismo, isso não significa que os traços masculinos são traços de autismo. Em lugar disso afirma, o fato demonstra apenas que o teste não é capaz de distinguir entre masculinidade e autismo.

"Para mim, a idéia equivale a dizer que duas coisas que têm o mesmo peso devem ser feitas do mesmo material", ele explica.

Interpretação equivocada da mídia
Todo mundo concorda quanto a uma coisa, porém ¿que a mídia britânica interpretou os dados de maneira incorreta e exagerada.

O jornal Guardian se concentra na questão dos testes pré-natais. O estudo não envolve essa questão e não foi motivado pela tentativa de desenvolver um teste. "O motivo do estudo era tentar compreender possíveis fatores causais do autismo", diz Baron-Cohen.

E mesmo que seja identificado um marcador biológico do autismo, muita gente sente que a questão dos testes é mais moral que científica.

"Os indivíduos autistas são indivíduos notáveis, com talentos fantásticos que beneficiaram muito nossa sociedade", diz Plaisted Grant. "Considero repulsiva a idéia de que haja um teste genético que poderia fazer com que pessoas como essas não chegassem ao mundo".

Tradução: Paulo Migliacci

Nature

Educação especial: nos caminhos da idiossincrasia

Educação especial: nos caminhos da idiossincrasia

Luís de Miranda Correia| 2009-01-30

As descrições abstractas, hipotéticas, por vezes eivadas de idealismo, não passam, na maioria dos casos, de conjecturas altamente desfasadas das realidades da sala de aula.



Numa era em que se pensava, fruto da muita investigação credível existente, que era possível levar a verdadeira inovação às escolas e às salas de aula, eis que, no que respeita à educação especial, mais uma vez, as metas são traçadas por aqueles que ao deterem o poder decidem quais as políticas desejáveis, descurando o conhecimento científico acerca da forma como, hoje em dia, se deve responder às necessidades dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE).

Vem isto a propósito da informação prestada pela Lusa sobre a avaliação que o ministério da educação pretende levar a cabo, que terá por base o sistema de sinalização de alunos com NEE utilizando a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).

Dá-se aqui uma primeira machadada na investigação. Sinalizar alunos com NEE utilizando a CIF? Mas, se a CIF é apenas uma classificação (classificar não será já em si um acto discriminatório?) que se alimenta das observações e avaliações efectuadas, nos vários domínios de desenvolvimento do aluno (académico, socioemocional e pessoal) e nos contextos onde ele se move (escola, casa, comunidade), por professores e outros agentes especializados, como pode, por si só, sinalizar seja o que for? É que o âmago da CIF, para quem a desconhece, baseia-se numa grelha (em termos científicos, numa escala gradativa) que, tendo por base um sistema de codificação, exige que seja aposto um visto numa de quatro opções. Impera, assim, a subjectividade, tantas vezes em prejuízo do aluno. Mais, se já se efectuaram avaliações cujos resultados, pressupostamente, permitem a elaboração de programações eficazes para os alunos com NEE, por que carga de água se vai despender mais tempo e dinheiro para, ainda por cima, subjectivar tudo o que já foi feito?

A segunda machadada (neste caso não só à investigação), ao continuar a ler a informação da Lusa, tem a ver com, quem?, o quê?, porquê?

No que concerne ao, quem?, não é verdade que Rune Simeonsson seja o autor da CIF, nem pouco mais ou menos. A sua equipa, isso sim, limitou-se a acrescentar-lhe alguns itens para adaptar a sua utilização a crianças e adolescentes.

Quanto ao, o quê?, considerar o autor da adaptação da CIF para conceber o modelo de avaliação que irá testar a sua eficácia é como perguntar ao Cristiano Ronaldo quem é, na sua óptica, o melhor jogador de futebol do mundo.

No que respeita ao, porquê?, pergunto porque é que Rune Simeonsson sentiu a necessidade de frisar que a CIF tem "em conta os contextos envolventes, e não as doenças". Aqui adivinha-se o pretender tornear um complexo sanitário (relativo à saúde e não à higiene, claro!) que, provavelmente, muito o tem atormentado, uma vez que a Organização Mundial de Saúde (OMS), cujo objectivo é o de "dirigir e coordenar as actividades internacionais relativas a questões sanitárias e de saúde pública", ao referir-se à CIF, diz que, "Como novo membro da Família de Classificações Internacionais da OMS, a CIF descreve a forma como os povos vivem com as suas condições de saúde... A CIF é útil para se compreender e medir os resultados de saúde...". Mais, num comunicado emanado da OMS (Press Release, WHO/48), pode ler-se, "A CIF põe em pé de igualdade todas as doenças e condições de saúde, sejam quais forem as suas causas...Têm sido feitos estudos científicos rigorosos para assegurar a aplicabilidade da CIF... no sentido de se poderem recolher dados fidedignos e comparativos no que diz respeito à saúde de indivíduos e populações". Assim sendo, não me restam quaisquer dúvidas de que a CIF diz respeito à saúde e que qualquer extrapolação para a educação pode trazer consequências desastrosas para os alunos com NEE. Quanto aos contextos envolventes (por contextos envolventes pretende-se dizer ambientes de aprendizagem e de interacção do aluno), que parece ser a imagem de marca da CIF, é importante que se diga que é uma imagem de marca já muito gasta, dado que desde os anos sessenta/setenta eles sempre foram considerados quando se efectuavam avaliações aos alunos com NEE. Ainda, continuando no porquê, não se percebe como um especialista de renome nos vem afirmar que com o uso da CIF, vamos assistir a uma "diferença radical" no atendimento a alunos com NEE e "a um passo inédito que Portugal tomou com a sua aplicação". Só pode ter sido por, a todo o custo, pretender vender o seu produto e por nos considerar uns saloios sem quaisquer cuidados científicos ou pretensões educacionais.

A terceira machadada, por incrível que pareça, vem confirmar o absurdo, ou seja, se, por um lado, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, afirma que a "tutela vai avaliar a aplicação da CIF", como que a querer dizer-nos que ela se encontra numa fase piloto e, por conseguinte, sem consequências gravosas para os alunos com NEE, por outro lado, diz-nos que não está minimamente "preocupado" com o "facto de a aplicação da CIF ter reduzido o número de crianças com apoio". Com estas afirmações, Valter Lemos está não só a demonstrar a sua insensibilidade em relação aos problemas dos alunos com NEE, mas também a entrar numa contradição flagrante, pois reconhece o uso da CIF como definitivo, atirando para o insucesso esse "número de crianças com apoio" que, de uma forma "administrativa" (fruto de directrizes e inspecções a escolas), verão, com certeza, o seu insucesso escolar aumentar, conjuntamente, na maioria dos casos, com a erosão da sua auto-estima.

A quarta machadada, também dada por Valter Lemos, refere-se à sua douta frase de que "partir do pressuposto de que quantas mais crianças forem apoiadas melhor é errado" (espero que se perceba a sua afirmação, a necessitar, pelo menos, de pontuação), não percebendo o secretário de Estado da Educação que, quanto mais e melhores forem os apoios para os alunos, melhores e mais ricas serão as suas aprendizagens. Mais, ainda, ao afirmar que "Tínhamos freguesias em que todas as crianças de etnia cigana estavam sinalizadas", ao retirar-lhes os apoios, não fez mais do que atirá-los para a sarjeta educacional, sem respeitar minimamente os seus direitos. Já agora, ainda em relação às etnias, ao afirmar que "Isso não é uma resposta adequada", quero chamá-lo à atenção de que existem respostas adequadas para este tipo de alunos, consignadas na designada "educação bilingue/bicultural" que, a saber, nem sequer existe no país.

Finalmente, a quinta machadada tem a ver com a exigência de, até 2013, ter "todas as crianças com NEE nas escolas de ensino regular." Ter-se-á esquecido Valter Lemos dos direitos que a Constituição Portuguesa confere a todas as crianças, incluindo as crianças com NEE? É que esse esquecimento desrespeita o direito à liberdade de escolha e a uma igualdade de oportunidades que nem sempre se processará nas escolas regulares, especialmente por falta de recursos, humanos e materiais?

Todas estas machadadas, dadas aos princípios fundamentais que regem os direitos das crianças, designadamente das crianças com NEE, devem-nos envergonhar e fazer com que actuemos com firmeza em defesa desses direitos, expressando um forte espírito de solidariedade que o nosso ministério da educação parece ter esquecido. É que o desafio, o prazer e, tantas vezes, o sofrimento que os professores e os pais sentem ao trabalhar com crianças com NEE ultrapassa, em muito, o que os políticos, os especialistas e os comentadores escrevem ou glosam sobre a forma como se devem educar estas crianças. As descrições abstractas, hipotéticas, por vezes eivadas de idealismo, não passam, na maioria dos casos, de conjecturas altamente desfasadas das realidades da sala de aula. No momento presente, iria mais longe, adicionando-lhes a retórica, o oportunismo político, a ignorância, a insensatez e a arrogância de quem só olha para o umbigo, rejeitando o diálogo a todo o custo, por medo que se descubra que o rei realmente vai nu.

Numa palavra, diria, que o ministério da educação continua a espalhar-se a todo o comprimento, como aliás já nos habituou.
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