"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Asperger e bullying: associação perigosa

Adriana Campos Licenciada em Psicologia, pela Universidade do Porto, na área de Consulta Psicológica de Jovens e Adultos, e mestre em Psicologia Escolar. Concluiu vários cursos de especialização na área da Psicologia, entre os quais um curso de pós-graduação em Psicopatologia do Desenvolvimento, na UCAE. Actualmente, é psicóloga na escola E B 2/3 de Leça da Palmeira, para além de dinamizar acções de formação em diversas áreas.

Asperger e bullying: associação perigosa

Adriana Campos| 2009-10-28

Para além de défices ao nível das competências sociais, estas crianças têm também dificuldades ao nível da comunicação, pois apesar de muitas vezes falarem de forma pomposa e fluente parecem ausentes do diálogo.



"Para elas, o mundo é estranho e desconcertante: as pessoas não dizem aquilo que pensam, dizem aquilo que não pensam, fazem comentários triviais e sem significado, aborrecem-se e perdem a paciência quando uma pessoa com síndrome de Asperger lhes refere centenas de factos fascinantes sobre horários, as inúmeras variedades de cenouras ou o movimento dos planetas. Também não entendem como é que as pessoas conseguem tolerar tantas luzes, sons, cheiros, texturas, paladares, sem se desnortearem, se preocupam tanto com a hierarquia social, têm relações emocionais tão complicadas, conseguem utilizar e interpretar tantas convenções sociais, são tão ilógicos."

Esta é a forma como Lorna Wing, a psiquiatra que usou pela primeira vez o termo síndrome de Asperger, caracteriza as pessoas com esta síndrome. Quem contacta diariamente com crianças com Asperger considera que esta psiquiatra faz, de uma forma sintética, uma boa caracterização deste tipo de problemática. Apesar de, cognitivamente, apresentarem capacidades médias ou acima da média, ao nível das competências sociais os portadores de Asperger apresentam défices que lhes limitam seriamente a capacidade de interagir socialmente de uma forma gratificante. Para além de terem dificuldade em estabelecer diálogo, têm tendência para fazer comentários inoportunos, "demasiado honestos", que muitas vezes magoam os outros. A dificuldade em perceber sinais não verbais e expressões faciais que exprimem sentimentos é outra característica que os define e que dificulta o estabelecimento de relações sociais satisfatórias.

Para além de défices ao nível das competências sociais, estas crianças têm também dificuldades ao nível da comunicação, pois apesar de muitas vezes falarem de forma pomposa e fluente parecem ausentes do diálogo. A dificuldade em extrair o significado de metáforas e entoações leva as pessoas com quem interagem a questionarem as suas capacidades cognitivas. O facto de habitualmente apresentarem interesses obsessivos também não facilita a comunicação, uma vez que os outros ficam rapidamente cansados de ouvir constantemente falar em carros, comboios, planetas e outros temas pelos quais habitualmente se interessam.

As dificuldades referidas levam a que estas crianças frequentemente se isolem ou sejam vítimas de abuso, nomeadamente bullying. Estes riscos exigem que sejam alvo de um acompanhamento muito próximo.

Ao abordar este tema, vêm-me imediatamente à memória os muitos casos de meninos com Asperger que vou acompanhando no SPO. O Jorge, por exemplo, que agora é aluno do 8.º ano de escolaridade, é acompanhado desde o 5.º ano. Ao longo destes anos tem havido uma articulação constante entre o director de turma, os professores do conselho de turma e os pais do aluno em questão, pois é alvo constante de agressão por parte dos colegas, alguns deles colegas novos que entram para a turma no início de cada ano lectivo. Sem intervenção e vigilância permanentes, o Jorge estaria certamente perdido neste mundo tão complexo, cheio de segundos sentidos e subtilezas.

O contacto com estas crianças, com quem habitualmente estabeleço uma excelente relação, leva-me a concordar plenamente com a opinião de Tony Attwood, psicólogo clínico especialista mundial em síndrome de Asperger, relativamente às capacidades e talentos dos portadores desta síndrome. A capacidade para estabelecerem relações de grande lealdade, o discurso isento de falsidades, a conversação objectiva e sem manipulação, a perspectiva original de resolução de problemas e a clareza de valores fazem deles pessoas muito especiais. Como diria este especialista, "Precisamos de pessoas com Asperger, uma vez que são mais criativos do que a população em geral. A cura para o cancro será provavelmente descoberta por alguém com Asperger!".

Bibliografia:
Atwood, T. (1998), A Síndrome de Asperger: Um Guia para Pais e Profissionais, Editorial Verbo, Lisboa.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pesquisas descartam relação entre mercúrio e autismo

Muitos pais se preocupam com a possibilidade de uma conexão entre o autismo e a exposição de crianças ao mercúrio. Mas a maioria das pesquisas descarta esses temores como infundados, e um novo estudo aponta que as crianças autistas na verdade apresentam níveis mais baixos de mercúrio no organismo do que crianças que registram índices normais de desenvolvimento. Os níveis de mercúrio estão estreitamente relacionados ao consumo de carne de peixe, o estudo constatou, e as crianças que sofrem de autismo e de distúrbios assemelhados tendem a ser mais seletivas quanto aos alimentos e evitam comer peixe.

Depois que os pesquisadores ponderaram os seus cálculos levando em conta o consumo mais baixo de peixe pelas crianças autistas, descobriram que não existia diferença entre os níveis de mercúrio em seus organismos e a média constatada nas crianças não autistas. Irva Hertz-Picciotto, professor de ciências da saúde pública na Universidade da Califórnia em Davis e diretora científica do estudo, disse que as constatações não envolvem avaliar se o mercúrio exerce ou não papel determinante no autismo.

"Estávamos medindo os níveis de mercúrio existentes depois que diagnósticos de autismo já haviam sido apresentados, na maioria dos casos em questão há pelo menos alguns meses", disse Hertz-Picciotto. "Assim, esse estudo não oferece indícios que confirmem ou neguem o vínculo". O relatório, publicado em 19 de outubro na versão online da revista Environmental Health Perspectives, é parte de um estudo continuado que compara crianças autistas e crianças não autistas na Califórnia. O estudo, com 452 participantes, inclui 249 crianças que sofrem de autismo ou outros distúrbios no espectro do autismo, 143 que estão se desenvolvendo em ritmo normal e outras 60 que apresentam distúrbios de desenvolvimento não relacionados ao autismo.

Tradução: Paulo Migliacci ME

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Fiocruz desenvolve exame inédito, e mais confiável, para autismo


O Brasil está desenvolvendo um exame laboratorial inédito para o diagnóstico do autismo, uma alteração caracterizada por isolar seu portador do mundo ao redor. O método promete ser uma alternativa mais confiável aos testes de laboratório hoje usados para identificar a doença. "Ainda estamos em fase de estudos, mas os resultados são promissores", diz o pesquisador responsável, Vladmir Lazarev, do Instituto Fernandes Figueira, centro de pesquisas ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. "Testamos o método em 16 autistas jovens e obtivemos dados homogêneos, muito significativos estatisticamente. Agora, queremos fazer novos testes. A previsão é de que o exame esteja pronto em até cinco anos."

De acordo com Lazarev, cientista russo radicado no Brasil há 15 anos, a vantagem do novo método está no uso da foto-estimulação rítmica. O recurso torna o exame mais completo que outros. Em linguagem comum: durante o já usual encefalograma (radiografia), projeta-se sobre o paciente uma luz que pisca de forma ritmada, estimulando o cérebro a acompanhar. Como o autismo é uma doença do cérebro, a reação deste ao estímulo luminoso pode indicar se ele se enquadra ou não no campo da doença.

Os 16 autistas examinados durante a pesquisa, por exemplo, apresentaram deficiência no lado direito do cérebro. Nesta parte, que é responsável pelas habilidades sócioafetivas da pessoa - confira aqui quadro sobre o cérebro -, a mente dos pacientes seguia o ritmo da luz, mas de maneira mais tímida. "Com isso, podemos concluir que há uma deficiência funcional no hemisfério cerebral direito do autista", explica Lazarev.

Exames de imagem como a encefalografia (radiografia do cérebro feita após a retirada de um fluido do local) ou o próprio encefalograma, se empregados sozinhos, deixam o paciente em estado de repouso. Nessa situação, não se nota nenhuma alteração na atividade elétrica do cérebro. Os resultados, portanto, nem sempre são satisfatórios.





Diagnóstico complexo - Os métodos laboratoriais, chamados de métodos de tipo objetivo, complementam o diagnóstico do autismo feito clinicamente, quando o paciente, em geral uma criança, é avaliado por médicos de diferentes especializações: pediatra, neurologista e fonoaudiólogo, além de um psicólogo. Ou seja, isoladamente, o parecer deve sempre ser associado aos exames de laboratório. "A dificuldade em diagnosticar clinicamente o autismo se deve ao fato de a doença, um mal neuropsiquiátrico funcional, ter aspectos parecidos com os de outras enfermidades", explica Lazarev. Daí a importância de um diagnóstico objetivo cada vez mais confiável.

A grande maioria dos doentes - entre 60% e 70% - tem comprometimento da linguagem, em níveis variáveis. O restante - de 30% a 40% - tem linguagem e inteligência normais e, tecnicamente, são chamados de autistas de alto desempenho. Embora sejam iguais aos demais na dificuldade de compreender o contexto em que se encontram, emitem menos sinais da doença, que pode demorar a ser identificada e tratada. Isso é um fator de risco.

Entenda melhor a doença - Segundo Adailton Pontes, parceiro de Lazarev na pesquisa, o autismo é considerado hoje não apenas uma doença, mas uma série de distúrbios de desenvolvimento capazes de comprometer a interação social, a comunicação social e as habilidades imaginativas. "O autismo não é uma coisa única, há várias formas de autismos que variam no grau de comprometimento das funções - mais leve, moderado, mais grave e com níveis diferentes de inteligência", diz o pesquisador.

A base da doença é genética. O papel do ambiente - das influências externas recebidas pelo autista - ainda é desconhecido. "O que se sabe é que a pessoa nasce com predisposição para o autismo e, já a partir dos dois anos pode apresentar os primeiros sinais da doença, como a ausência de linguagem e a dificuldade de brincar", conta Pontes. "O ideal é diagnosticar a doença até os três anos. Está provado que, quando se faz a intervenção precoce, o prognóstico é melhor. Eles não vão se curar, mas vão se desenvolver mais, vão superar algumas dificuldades que os outros podem não superar porque não foram estimulados."

O autismo não tem cura, mas o portador da doença pode tomar remédios contra sintomas específicos, como a agressividade.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Autismo, esquizofrenia e retardo mental têm base genética comum

Autismo, esquizofrenia e retardo mental têm base genética comum
(AFP) – há 5 dias

ROUEN, França — Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Rouen (norte da França) afirmam ter descoberto uma base genética comum para o autismo, a esquizofrenia e o retardo mental, informou nesta quarta-feira a equipe de neurogenética do laboratório Inserm U 614.

A equipe comparou as desordens genéticas de 750 pacientes - divididos em três grupos - que sofrem respectivamente de autismo, esquizofrenia e retardo mental.

"Encontramos os mesmos tipos de alteração nos mesmos genes envolvidos nessas enfermidades nos três grupos", assegurou Audrey Guilmatre, que faz parte da equipe de neurogenética dirigida pelo doutor Dominique Campion.

A equipe estabeleceu, por outro lado, que os genes alterados são os que desempenham um papel nas conexões dos neurônios.

"Esse tipo de alteração só foi descrito recentemente e, por isso, está se trabalhando seriamente no que significa", explicou Guilmatre.

Segundo a pesquisadora, esta descoberta possibilita uma nova aproximação dessas doenças que, até agora, eram consideradas completamente diferentes.

"Isso torna possível ter como objetivo de estudo o mecanismo de transmissão entre os neurônios, melhorar o diagnóstico e, a longo prazo, achar moléculas que possam tratar essas enfermidades", acrescentou.

O trabalho da equipe, que estudou 28 genes e continuará seus trabalhos com outros, foi possível pela existência de um banco genético da Fundação Autismo.

Este organismo, que reúne famílias de crianças autistas, classificou a descoberta de muito importante.

"Nunca antes se havia descoberto uma grande porcentagem de pessoas autistas com a mesma anomalia genética nem uma evidência de anomalia genética comum entre autismo, esquizofrenia e retardo mental", declarou a fundação em um comunicado.

Depois desta descoberta, a fundação disse confiar "na ideia de que tratamentos moleculares, celulares e eventuais meios de prevenção estão realmente mais próximos".

http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jH-b2hRXGUUDJehx5wuL-1WvW7_A

domingo, 11 de outubro de 2009

Pesquisas identificam possível alvo para tratamento do autismo

Pesquisas identificam possível alvo para tratamento do autismo
Estudos genéticos relacionam proteína e conexão entre os neurônios.
Análises em autistas comprovaram menor presença da proteína.

Luis Fernando Correia

Através de uma rede cooperativa, que envolve mais de 75 centros de pesquisa, estudos genéticos conseguiram correlacionar os níveis de uma proteína e a conexão entre os neurônios.


A proteína Semaforina 5A já havia sido implicada no crescimento dos neurônios e a formação das conexões entre as células cerebrais. Comparando indivíduos portadores de autismo e controles sem a doença os níveis dessa proteína eram mais baixos nos autistas.



saiba mais
Autistas ganham centro de tratamento na rede pública do Rio
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As análises do tecido cerebral de portadores de autismo, feitas em um estudo paralelo comprovaram a menor presença dessa proteína nos portadores da doença.


Esses estudos, segundo o pesquisador Andy Shih, podem reforçar o conceito de que um déficit de integração entre os neurônios esteja envolvido na neuropatologia dessa complicada doença.



A partir da comprovação desses achados e da função da proteína semaforina e suas variantes, os pesquisadores acreditam que um possível alvo para futuros tratamentos medicamentosos pode ter sido identificado.



Através de um programa chamado de Autism Genetic Resource Exchange, material genético de pessoas de famílias com pelo menos dois indivíduos com diagnóstico de autismo se torna disponível aos pesquisadores.



As pesquisas de comparação genética são chamadas de Genome Wide Association Studies e buscam comparar o genoma humano e suas variações com a presença de doenças.



Esses estudos para serem realizados, precisam envolver grandes grupos populacionais com as mesmas características e também grupos controle para que os paralelos possam ser traçados.



Para que esses materiais possam estar disponíveis, a participação das famílias de pacientes é fundamental.



Leia mais Saúde em Foco



Leia mais notícias de Ciência e Saúde

http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1334704-5603,00-PESQUISAS+IDENTIFICAM+POSSIVEL+ALVO+PARA+TRATAMENTO+DO+AUTISMO.html

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

“O autismo não tem cura”

APPDA promove III seminário:



“O autismo não tem cura”
A APPDA–Setúbal, Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo promoveu na passada sexta-feira o terceiro seminário sobre as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA). Ao longo do dia, foram debatidas várias questões sobre o autismo e as suas consequências para as famílias. A associação anunciou ainda o lançamento de um livro, cujas receitas vão reverter para a construção de um centro.

Lídia Isabel Nicolau


Cerca de dez oradores, de diferentes áreas, deslocaram-se a Setúbal para apresentar os seus estudos, as suas experiências e, sobretudo, para contribuir para um esclarecimento dos profissionais da área e familiares que estiveram no seminário que se realizou nas instalações do Centro de Formação Profissional.

O psiquiatra Carlos Filipe foi o primeiro do painel de convidados a intervir e a explicar os “Conceitos, mitos e preconceitos sobre Autismo”. Um dos primeiros mitos desfeitos pelo especialista foi que o autismo não é uma patologia recente. “O autismo não é uma descoberta recente num uma modernice”, explicou lembrando que o que acontecia é que antes os autistas eram classificados como deficientes mentais e esquizofrénicos.

Quanto às características das PEA, Carlos Filipe destacou o isolamento, a insistência na semelhança e na repetição, as alterações na linguagem, a idade precoce do aparecimento dos sintomas e alertou que “o autismo poderá estar presente à nascença”. Outros aspectos importantes é que se manifesta por diferentes formas de comportamento, tem um carácter persistente e evolui com a idade, o défice de comunicação e interacção social e que não está localizado em nenhuma área até agora identificada.

Outro mito “que tem de ser desfeito”, como avisou o especialista de 52 anos, é que “é impossível existir um teste pré-natal que garanta a cem por cento se a criança vai ter autismo”.

Algumas das ideias erradas que o psiquiatra destacou foram que o autismo não é causado por má relação parental, não está entre o grupo das esquizofrenias, não tem uma causa única e não é consequência de intolerâncias alimentares. “No autismo temos pouca certezas mas temos a certeza absoluta que não é causado por qualquer vacina” e, sobretudo, que para já, “não tem cura. A pessoa é autista, não tem autismo”, distinguiu.

O especialista terminou deixando cinco conclusões: cada caso é um caso; não há terapêuticas “universais” para o autismo; o ensino integrado ou o especial não é sempre a melhor solução; a avaliação da eficácia deve ser feita em função da melhoria da autonomia e do bem-estar do próprio e da família; e a avaliação das terapêuticas deve atender à relação custo-benefício. No entanto, o primeiro orador do dia disse que tem “mais dúvidas do que certezas”.

Na iniciativa estiveram também a presidente da APPDA-Setúbal, Maria José Sobral, a presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, Alexandra Pimenta, o director do Centro de Formação Profissional de Setúbal, Carlos Costa, e a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira.

A presidente da APPDA, na sessão de abertura, alertou para o facto de o autismo não ser “uma deficiência rara e que afecta 0.6 por cento da população”, o que se traduz em cerca de 4680 pessoas com PEA no distrito de Setúbal e cerca de 720 no concelho. Maria José Sobral fez um breve balanço das actividades deste ano e anunciou que brevemente vai ser editado um livro sobre o tema do autismo escrito por uma mãe com um filho autista e ilustrado por uma criança autista. As receitas da venda do livro vão reverter a favor da construção de um centro de apoio que já tem nome: “Respiro”.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

APSA

"Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger"

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ajuda a jovens com Síndrome de Asperger

A Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger e a Câmara de Lisboa assinam hoje o protocolo de construção da ‘Casa Grande’, uma residência de formação e reinserção para jovens portadores daquela síndrome.


Piedade Líbano Monteiro, presidente da associação, disse que a obra é o concretizar de um sonho só possível porque foram obtidos os 350 mil euros necessários para a construção da residência. ‘Casa Grande’ é o nome da residência de dois pisos que a associação vai construir num edifício em ruínas na Quinta da Granja de Baixo, em Benfica, destinado à formação profissional e reinserção social de 53 jovens adultos, com mais de 16 anos, residentes na Grande Lisboa e sócios da associação.

Ele viu o valor dos diferentes

Ele viu o valor dos diferentes

Pai de um autista, o dinamarquês Thorkil Sonne abriu uma consultoria de tecnologia da informação para empregar portadores da doença. O resultado: um negócio lucrativo e preciosas lições de vida

Por IVAN PADILLA

Lars começou a apresentar os primeiros distúrbios de comportamento assim que entrou no jardim de infância, aos 3 anos. Em vez de brincar com os amiguinhos, passava horas solitariamente, entretido com os próprios brinquedos. A rotina não variava, do momento em que chegava até o sinal da saída. As palavras, antes abundantes, começaram a faltar. Seus dois irmãos mais velhos, Anders e Rasmus, de 10 e 7 anos, nunca haviam demonstrado nenhum problema de fala ou de relacionamento. Algo parecia errado com Lars.

Era início de 2000. Poucos meses depois, Thorkil Sonne e sua mulher, Annete, moradores de Copenhague, na Dinamarca, receberam o diagnóstico de seu filho: autismo. “Todos os nossos planos desabaram”, disse Sonne a Época NEGÓCIOS. O autismo manifesta-se de forma diferente em cada pessoa – por isso, é tratado como um espectro de transtornos. Mas alguns sintomas são comuns. A comunicação, a interação social e a capacidade de imaginação são sempre afetadas. Não existe cura. A pessoa nasce e morre com a doença.

Sonne começou a frequentar associações de apoio aos pais e a acompanhar atentamente o comportamento dos portadores da doença. Descobriu neles muitas habilidades. Autistas podem ser extremamente atentos e capazes de permanecer concentrados na mesma atividade por muito tempo. Também conseguem seguir instruções com facilidade e têm boa memória. Como não gostam de surpresas, percebem facilmente qualquer alteração em um padrão.

Qualidades como essas seriam úteis em diversas áreas de atividade, pensou Sonne. Mas que serviços seriam? Em que empresas estariam esses postos? Sonne pesquisou possíveis mercados de trabalho. Em 2004, quatro anos depois do diagnóstico do filho, pediu demissão da TDC, a companhia dinamarquesa de telecomunicações, e abriu uma consultoria de tecnologia da informação na sala de casa. Ele mesmo daria emprego a portadores de autismo. O nome escolhido para a empresa foi Specialisterne, ou Os Especialistas.

Foi uma ação solidária, de inclusão social, sem dúvida, mas não apenas. A iniciativa logo se mostrou um negócio lucrativo. Em cinco anos de atividade, a empresa atingiu faturamento de 2 milhões de euros. Possui dois escritórios na Dinamarca e até o fim deste ano terá aberto filiais em Glasgow (Escócia) e em Zurique (Suíça). Seu maior cliente é a Microsoft. Dos 60 empregados, 43 são portadores de autismo. Sonne foi procurado por mais de 50 instituições europeias interessadas em implantar projetos semelhantes. Neste semestre, o caso da empresa fará parte do programa de ensino da Harvard Business School, a escola de pós-graduação em administração de Harvard. “A razão do sucesso é simples”, afirma Sonne. “Ninguém faz melhor esse trabalho do que eles.” Entre os serviços oferecidos pela consultoria estão testes e desenvolvimento de interfaces de sites e aplicativos para softwares. “Uma pessoa normal consegue checar um manual de instruções uma, duas, três vezes. Mas depois a atenção se dispersa”, diz Sonne. “Nossos funcionários conseguem pegar uma contradição entre a introdução e o último capítulo.”

PENSAR DIFERENTE
A minúcia na checagem de informação é essencial nesse setor. “Essas tarefas são desempenhadas por profissionais iniciantes”, diz Antônio Carlos Guedes Júnior, analista da Topmind, consultoria brasileira especializada em tecnologia da informação. “Falhas, infelizmente, são comuns”, diz Guedes. A taxa de erro registrada na consultoria dinamarquesa, de acordo com Sonne, é de 0,5%. Nas empresas convencionais, a média é até dez vezes maior.

Cerca de 80% dos empregados da consultoria são homens, devido à alta incidência da doença na população masculina. Têm entre 19 e 46 anos. Todos ganham salário. O expediente é de 15 horas semanais. Os escritórios assemelham-se a qualquer outro. Cada empregado tem uma mesa com computador. A diferença está no zelo com a ordem. Autistas precisam de ambientes tranquilos. Muitos serviços são prestados fora da sede. Os clientes, então, são orientados a manter o escritório em silêncio e a falar com eles sem ironia ou sarcasmo. “Autistas não conseguem filtrar o tom de uma conversa”, afirma Sonne.

Os funcionários passam por um treinamento de cinco meses. Os testes de aptidão são feitos com um robô da Lego desenvolvido com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um brinquedo que exige atenção, paciência e lógica. As peças de encaixar vêm com um software e um motor com sensores infravermelhos. O robô pode ser programado no computador para desempenhar funções como buscar objetos. Os dados são transmitidos por Bluetooth. Sonne teve a ideia de usar os pequenos tijolos coloridos ao ver seu filho montar objetos complexos com os pinos e blocos.

A trajetória bem-sucedida da consultoria dinamarquesa deixa algumas lições. Virou lugar-comum nas empresas a valorização do trabalho em equipe. “Mas as corporações não deveriam apenas olhar para as habilidades sociais”, diz Sonne. “A diversidade também é essencial. As empresas precisam de pessoas que pensam diferente. E autistas pensam diferente.” Para eles, trabalhar tem função terapêutica. “Eles se sentem mais confiantes”, diz Sonne.

O pequeno Lars, que inspirou a Specialisterne, tem hoje 13 anos. Quando completar 18, quer trabalhar na consultoria. “Mas por dois ou três anos. Depois disso ele quer ser motorista de trem”, diz o pai. É uma tarefa complexa para os autistas, que costumam entrar em pânico quando precisam tomar decisões. Se pudesse realizar seu sonho, Lars seria um maquinista muito atento.


http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI91135-16365,00-ELE+VIU+O+VALOR+DOS+DIFERENTES.html#

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Governo dos EUA vai gastar 5 mil milhões de dólares em investigação

Barack Obama anunciou que o Governo norte-americano vai investir 5 mil milhões de dólares em investigação médica e científica e na modernização da capacidade laboratorial, defendendo que serão criadas dezenas de milhares de novos postos de trabalho, avança a agência Reuters.

Os fundos em causa, que fazem parte de um pacote de incentivo económico de 787 mil milhões de dólares, vão suportar a "vanguarda na investigação médica em todos os Estados norte-americanos", declarou a Casa Branca.

As causas genéticas do cancro e os seus potenciais tratamentos contarão com um milhão de dólares. Obama prometeu ainda um grande investimento na luta contra o autismo, que afecta uma em cada 150 crianças norte-americanas.
"Este tipo de investimento também conduz à criação de novos empregos: dezenas de milhares de empregos ligados à investigação, produção e fornecimento de equipamento médico, bem como para a construção e modernização de laboratórios e centros de pesquisa", declarou o presidente dos EUA num discurso nos National Institutes of Health.

2009-10-01 | 09:19