"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

“O autismo não tem cura”

APPDA promove III seminário:



“O autismo não tem cura”
A APPDA–Setúbal, Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo promoveu na passada sexta-feira o terceiro seminário sobre as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA). Ao longo do dia, foram debatidas várias questões sobre o autismo e as suas consequências para as famílias. A associação anunciou ainda o lançamento de um livro, cujas receitas vão reverter para a construção de um centro.

Lídia Isabel Nicolau


Cerca de dez oradores, de diferentes áreas, deslocaram-se a Setúbal para apresentar os seus estudos, as suas experiências e, sobretudo, para contribuir para um esclarecimento dos profissionais da área e familiares que estiveram no seminário que se realizou nas instalações do Centro de Formação Profissional.

O psiquiatra Carlos Filipe foi o primeiro do painel de convidados a intervir e a explicar os “Conceitos, mitos e preconceitos sobre Autismo”. Um dos primeiros mitos desfeitos pelo especialista foi que o autismo não é uma patologia recente. “O autismo não é uma descoberta recente num uma modernice”, explicou lembrando que o que acontecia é que antes os autistas eram classificados como deficientes mentais e esquizofrénicos.

Quanto às características das PEA, Carlos Filipe destacou o isolamento, a insistência na semelhança e na repetição, as alterações na linguagem, a idade precoce do aparecimento dos sintomas e alertou que “o autismo poderá estar presente à nascença”. Outros aspectos importantes é que se manifesta por diferentes formas de comportamento, tem um carácter persistente e evolui com a idade, o défice de comunicação e interacção social e que não está localizado em nenhuma área até agora identificada.

Outro mito “que tem de ser desfeito”, como avisou o especialista de 52 anos, é que “é impossível existir um teste pré-natal que garanta a cem por cento se a criança vai ter autismo”.

Algumas das ideias erradas que o psiquiatra destacou foram que o autismo não é causado por má relação parental, não está entre o grupo das esquizofrenias, não tem uma causa única e não é consequência de intolerâncias alimentares. “No autismo temos pouca certezas mas temos a certeza absoluta que não é causado por qualquer vacina” e, sobretudo, que para já, “não tem cura. A pessoa é autista, não tem autismo”, distinguiu.

O especialista terminou deixando cinco conclusões: cada caso é um caso; não há terapêuticas “universais” para o autismo; o ensino integrado ou o especial não é sempre a melhor solução; a avaliação da eficácia deve ser feita em função da melhoria da autonomia e do bem-estar do próprio e da família; e a avaliação das terapêuticas deve atender à relação custo-benefício. No entanto, o primeiro orador do dia disse que tem “mais dúvidas do que certezas”.

Na iniciativa estiveram também a presidente da APPDA-Setúbal, Maria José Sobral, a presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, Alexandra Pimenta, o director do Centro de Formação Profissional de Setúbal, Carlos Costa, e a presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira.

A presidente da APPDA, na sessão de abertura, alertou para o facto de o autismo não ser “uma deficiência rara e que afecta 0.6 por cento da população”, o que se traduz em cerca de 4680 pessoas com PEA no distrito de Setúbal e cerca de 720 no concelho. Maria José Sobral fez um breve balanço das actividades deste ano e anunciou que brevemente vai ser editado um livro sobre o tema do autismo escrito por uma mãe com um filho autista e ilustrado por uma criança autista. As receitas da venda do livro vão reverter a favor da construção de um centro de apoio que já tem nome: “Respiro”.

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