"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Especialistas britânicos contra prescrição de Ritalina a menores de cinco anos

Especialistas britânicos contra prescrição de Ritalina a menores de cinco anos
25.09.2008, Andrea Cunha Freitas
O psicofármaco, usado para casos de perturbações de atenção como a hiperactividade em crianças e jovens, é aconselhado apenas para casos extremos
Desta vez, os avisos vêm do Reino Unido. As novas linhas orientadoras ditadas pelo National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE) referem que o conhecido medicamento chamado Ritalina (nome comercial do metilfenidato) usado para casos de défice de atenção e hiperactividade não deve "em caso algum" ser prescrito a menores de cinco anos e apenas deve ser usado por crianças mais velhas em último recurso. Em Portugal, os especialistas sublinham que a prescrição destes fármacos a crianças com menos de cinco anos abrange uma pequena minoria e situações muito especiais. As novas directivas britânicas neste campo foram divulgadas na edição de ontem do The Guardian. Segundo este diário, os especialistas defendem que antes de receitar Ritalina é preciso assegurar que todas as outras estratégias foram tentadas e falharam. Assim, fala-se numa aposta na formação de pais e professores para que aprendam a lidar com estas situações delicadas antes de simplesmente prescrever o medicamento que acalma a criança. Para a formação é proposto um programa de 12 semanas. O piscofármaco apenas deve ser usado nos casos mais graves e como último recurso, sublinham. Além disso, o uso destes medicamentos, diz o NICE, deve ser sempre acompanhado de apoio psicológico. A prescrição de medicamentos como a Ritalina sempre foi alvo de controvérsia e debate na comunidade científica. Ainda assim, há milhões de crianças em todo o mundo que parecem precisar desta medicação para resolver problemas de desatenção. Em Portugal, o problema deverá afectar entre 3 e 5 por cento da população escolar. "O manancial de experiência adquirido até hoje permite concluir que é um medicamento eficaz e seguro. Temos dados suficientes para concluir que a taxa de complicações a curto e longo prazo é muito baixa", referiu ao PÚBLICO o neuropediatra José Carlos Ferreira, especialista nesta área, admitindo que o fármaco pode produzir efeitos secundários já relatados como, por exemplo, palpitações e falta de apetite. "Há sempre muita vigilância nestas situações", nota. O pediatra Pedro Cabral acrescenta: "É prescrito a muito poucas crianças com menos de cinco anos e com cuidados especialíssimos", refere, notando que deve ser sempre investigada outra explicação para o problema como perturbações do espectro do autismo. Um estudo publicado hoje na revista Child and Adolescent Psychiatric refere que as crianças norte-americanas são três vezes mais alvo de prescrições de psicofármacos quando comparadas com as europeias. O artigo aponta para possíveis explicações relacionadas com as diferenças nas regras de prática clínica, com sistemas de classificação e diagnóstico distintos, bem como com questões culturais. "Um reflexo da mentalidade", referem os autores, que apontam para um aumento dos diagnósticos de perturbação bipolar nos EUA. A investigação levada a cabo nos EUA envolveu a Alemanha e a Holanda.

Jornal Público 25/09/2008

Sem comentários: