"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Gene condiciona comportamento social em macacos e humanos

As variações genéticas no gene que transporta serotonina, crucial na regulação das emoções e presente em macacos e em humanos, modelam o comportamento social.

Esta descoberta da Duke University (EUA), que aparece no último número da revista PLoS One, poderia contribuir para criar um novo modelo para estudar o autismo, o transtorno de ansiedade social e a esquizofrenia.

Os humanos e os macacos são os únicos membros da família primata que têm este traço genético, que influi nos transtornos experimentados no âmbito das recompensas sociais.

Para chegar a esta conclusão, os cientistas estudaram o comportamento e a ansiedade social em dois grupos de macacos que apresentavam variações no gene transportador da serotonina.

Já sabiam que existem duas versões do gene nos humanos: longa e curta, que podem se repetir no par de cromossomos ou aparecer combinadas.

Aquelas pessoas que têm um gene de cada tipo sofrem uma maior incidência do transtorno da ansiedade social e de outros comportamentos.

Na experiência com o macaco rhesus (divididos em dois grupos de gene longo/gene longo e gene longo/gene curto), a presença da versão curta do gene influiu na hora de correr riscos quando enfrentavam um estímulo social: os animais apresentavam um estado emocional medroso e eram reticentes a se arriscarem.

O primeiro teste consistiu em mostrar aos animais imagens de rostos de macacos conhecidos de diferentes status social (esta espécie vive em sociedades despóticas e usa comportamentos dominantes ou submissos para expressar sua categoria social).

Os primatas com uma cópia do gene curto dedicaram menos tempo a olhar as imagens, foram menos propensos a desenvolver um comportamento social arriscado e a observarem aquelas imagens nas quais apareciam macacos de grande status.

Além disso, tiveram um maior diâmetro de pupila quando olhavam para os animais poderosos da comunidade, um sinal que indica uma alta excitação.

Nos estudos realizados com humanos se observou que as pessoas com a versão curta do gene têm com frequência amídalas cerebrais (que detectam as ameaças do ambiente) hiperativas.

Após observar rostos de indivíduos poderosos, os macacos com a versão curta do gene estavam assustados e menos dispostos a enfrentarem riscos e escolhiam a opção segura de uma quantidade de suco ao invés de se arriscarem para conseguir uma maior quantidade.

Por último, os cientistas usaram um teste de recompensas.

Os macacos com as versões longas do gene deixaram de um lado o suco para olhar as imagens de machos dominantes, porém os que tinham a cópia curta tiveram que beber o suco para olhar para estes animais.

Segundo os pesquisadores, a variação genética na serotonina contribui para moldar o comportamento dos macacos através das recompensas e dos castigos.

Como estas variações só ocorrem no ser humano e nos macacos, os cientistas propõem usar estes animais para estudar o que ocorre no cérebro das pessoas, algo que poderia lançar luz em transtornos como o autismo, a ansiedade social e a esquizofrenia.


http://www.estadao.com.br/vidae/not_vid307165,0.htm

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