"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Diagnóstico e tratamento

As principais características que os pais precisam observar para identificar os traços do autismo são a falta de interação social e de comunicação verbal, os movimentos repetitivos (também conhecidos como estereotipias) e o não-desenvolvimento das crianças de acordo com o comportamento próprio para a sua idade. Em 2002, o Ministério da Saúde desenvolveu manuais de preparação para profissionais da saúde identificarem problemas no crescimento e desenvolvimento da criança nas primeiras fases da vida. Por isso é tão importante que os pais fiquem atentos aos primeiros anos da vida do bebê e façam o acompanhamento médico. Se o autismo for confirmado, é preciso buscar ajuda profissional especializada.

Em Jaraguá do Sul, onde existe a Associação dos Amigos do Autista (AMA), existe uma equipe multiprofissional, capaz de fazer a avaliação do autismo, oferecer atendimento educacional e orientação clínico-pedagógica. A equipe aplica dois métodos terapêuticos no tratamento, os chamados Pecs e o Tecch (veja tabela ao lado).

– O investimento nestes educandos deverá ser direcionado na busca do aumento da comunicação e interações sociais, na diminuição das alterações comportamentais, na maximização do aprendizado e independência nas atividades de vida diária – explica a diretora da AMA, Tânia Krause.

A associação recebe apoio da Fundação Catarinense de Educação Especial, o que garante tratamento gratuito. Como em Blumenau não existe nenhuma instituição que atenda a pacientes com autismo, a Apae oferece um serviço semelhante, mas para crianças que além de autismo também têm alguma necessidade especial. Na Apae, os alunos se inserem no Programa de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, que mescla vários métodos.



Números
Estima-se que haja
1 milhão
de casos no Brasil
A desordem atinge
4 vezes
mais indivíduos do sexo masculino


Atendimento especializado


Na opinião da psiquiatra e psicóloga Michele Kamers, professora do departamento de Psicologia da Furb, instituições que atendem a crianças com traços autísticos funcionam como escola especializada – para ela, o ideal seria a busca de tratamento com algum profissional da Psicologia, que visa à reorganização dos laços familiares. Paralelamente ao atendimento direcionado, as crianças com autismo podem frequentar o ensino regular – direito garantido por lei.

De acordo com a diretora da Instituição Inspirados pelo Autismo, Mariana Tolezani, o envolvimento dos pais é fundamental. A instituição trouxe a aplicação de um dos métodos de tratamento para o Brasil, o americano Son-Rise (veja tabela abaixo), que é transmitido a pais e profissionais através de workshops.

– O que despertou o meu interesse no Son-Rise foi o diferencial na abordagem lúdica respeitosa para a valorização do relacionamento com as pessoas com autismo, para auxiliar a pessoa a desenvolver suas habilidades sociais, emocionais e cognitivas através de interações prazerosas e motivadoras. Considero de muita eficácia que os pais sejam treinados, fazendo sessões domiciliares – afirma Mariana.

Desenvolvimento

A maioria dos tratamentos é voltada para crianças que apresentam traços autísticos, que podem se desenvolver muito além das expectativas ou ainda reverter o quadro. De acordo com Michele, em adultos, como o quadro de desenvolvimento já está estabelecido e, por vezes, avançado, os tratamentos consistem em criar condições de vida mais humanizadas para o paciente.



Métodos
- Son-Rise – é uma terapia domiciliar que procura estabelecer a comunicação entre o autista e outra pessoa, sem interferências externas de ruídos, imagens e até mesmo de outras pessoas. É focada principalmente no aspecto lúdico. O tratamento pode se estender a consultórios e escolas. O método também pode ser aplicado pela família, depois de orientada por um profissional capacitado.
- Tecch – baseia-se na estruturação do ambiente físico através de rotinas organizadas em agendas e sistemas de trabalho. O método adapta o ambiente e torna mais fácil para o autista compreender o que se espera dele.
- Pecs – sistema de comunicação através da troca de figuras. O apoio visual e o reforço são os principais norteadores. Procura mostrar ao educando que através da comunicação ele pode conseguir o que deseja.
- Psicanálise – acredita que o transtorno é resultado do desencontros na relação entre mãe e bebê. Por meio de sessões, busca reorganizar esse laço familiar desde o diagnóstico.
Como identificar?
- Falta de interação social - preste atenção se o seu filho não olha nos seus olhos e não possui expressões faciais. O autista não atende às ações e pedidos das pessoas ao redor dele.
- Falta de comunicação verbal - as crianças autistas desenvolvem pouco a fala e aquelas que a possuem utilizam apenas para pedir o que querem, não para estabelecer um diálogo. Além da falta de comunicação verbal, o autista também não se comunica por gestos.
- Esteriotipia - concentração durante muito tempo em um único objeto, não evoluindo nas brincadeiras com o mesmo nem com outras pessoas.
- Desenvolvimento – pais devem ficar atentos ao desenvolvimento da criança desde os primeiros meses. Alguns aspectos podem ser analisados. As crianças normalmente devem, por exemplo, conseguir sentar-se e olhar nos olhos das pessoas aos quatro meses, emitir sons até os cinco, engatinhar aos seis ou estranhar pessoas aos oito meses.
Fontes: psicóloga Juliana Alves Santiago e psicanalista e psicóloga Michele Kamers.

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