A noite mais longa do ano é também a mais mágica. O momento em que as crianças acreditam que todos os seus desejos se irão realizar. Uma história que perpetua a esperança, o amor e o perdão. E assim deve continuar.
Por Pilar Diogo A criatividade, o imaginário são as ferramentas de base necessárias ao saudável crescimento das crianças. São os sonhos infantis, o nosso extraordinário mundo povoado de fadas, duendes, monstros, bruxas que nos fazem crescer, resolver conflitos interiores e que, mais tarde, nos permitem ter a capacidade de resolver problemas maiores. Daí que – a par do sentimento crítico e da capacidade de analisar o mundo, que devem ser estimulados nas crianças – alimentar esse universo de faz-de-conta, de magia, onde se inclui o Pai Natal, através de histórias contadas nas horas da confidencialidade, antes de dormir, entre aconchegos e beijos, não só é algo benéfico como indispensável. A imaginação permite-nos alargar os nossos horizontes e reduzir a angústia perante as situações de stress. As crianças vivem muito na realidade, um quotidiano por vezes até bastante agressivo, e muito pouco no sonho.
Existe uma função psicológica nesta figura na qual as crianças têm necessidade de acreditar, deleitando- -se com a visão de um velhinho de barbas, uma espécie de avô bondoso que não esquece ninguém, que tudo desculpa, rasgando os céus num trenó puxado por renas. Existe nesta figura o sentimento de esperança, de perdão, do renascer para um Eu melhor. Para Manuel Coutinho, psicólogo clínico, “actualmente o Pai Natal é um misto de uma sociedade que apela ao consumo e que tenta transmitir alguns valores de generosidade, mas fá-lo de maneira algo ilusória, porque em torno desta figura simpática que muito contribui para o imaginário das crianças, e de todos nós, pouco tem sido feito para a munir de valores reais, de autenticidade, de nobreza de sentimentos, de verdade em detrimento de uma atitude meramente comercial”. E às dúvidas daqueles pais que ainda se questionam se é benéfico os filhos acreditarem nesta figura, Manuel Coutinho responde que “é importante que as crianças possam fantasiar com esta figura. Povoar o imaginário dos mais pequenos é necessário, porque todas as histórias acabam por ter uma moral, uma lição. E a moral da história do Pai Natal é a de que nós estamos sempre a tempo de nos tornarmos melhores pessoas, que somos mais felizes se nos dermos aos outros, como fez São Nicolau. A criança tem de compreender que, se cumprir as normas, vai ser melhor para ela e ela vai ganhar – não bens materiais – com isso, transformar-se-á numa pessoa melhor, mais humana. O verdadeiro valor do Pai Natal tem de ser humanista. E este não é o momento do ajuste de contas, se os filhos tiveram más notas ou se portaram mal. “Não há um Pai Natal tirano, muito menos um Deus tirano. A dar, os pais devem dar sempre presentes. Nem sequer se devem confundir as coisas. Uma coisa são as notas, as avaliações, os desempenhos escolares; outra, são os afectos. Se os pais acham que as crianças não os merecem, então devem ajudá-las a merecê-los, e não o contrário”, afirma Manuel Coutinho. Mas frisando sempre que “as melhores ofertas não são as materiais, mas as dos valores, da amizade, do afecto, da solidariedade, da tolerância, da compreensão, do respeito e da generosidade... e essas não se transmitem só numa noite, mas todos os dias, durante uma vida, de geração em geração. Até porque não se ‘compram’ as crianças com bens materiais, cativam-se. É a interacção com os outros que é importante”. O Pai Natal restabelece o elo com o passado, com outros Natais, com a tradição e os rituais tão importantes nas famílias. Ele é um avô que, como refere o sociólogo Jacques Godbout em L’Esprit du Don (em colaboração com Alain Caillé, Éditions La Découverte), “restabelece a filiação, o elo com os antepassados que a sociedade moderna rompe constantemente. O Dom é uma cadeia temporal. Ele traz os presentes do universo e autoriza os pais, pela sua presença, a serem também filhos, pelo espaço de um momento”. A riqueza das recordações de infância não deixa ninguém indiferente, como diz Patrick Estrade, psicólogo e psicoterapeuta, formado pelo Instituto de Psicologia de Berlim, no seu livro Estas Recordações que nos Comandam (Bizâncio), “porque são o diário (...) do que vivemos. Um caderno um pouco particular, todavia, no sentido em que não retrata fielmente tudo o que vivemos mas retrata fielmente – demasiado fielmente por vezes – o que nos parece importante ter vivido”. E, quando não são a marca de acontecimentos terríveis e traumatizantes, “as recordações de infância são nichos afectivos extraordinários, fascinantes, surpreendentes de loucura, de inteligência, de ternura, de malícia. A vida aparece aqui em toda a sua simplicidade”. Por isso, vamos celebrar o maravilhoso, cuidar das nossas recordações, incutir os verdadeiros valores nas crianças, para que um dia possamos ouvir: “Mãe, lembras-te daquele Natal?”
Da ficção à realidade • O Pai Natal é a bondade personificada, a generosidade, o amor, tolerante. Tudo qualidades para dar como exemplo às crianças • Nas longas cartas redigidas ao Pai Natal, as crianças expressam os seus desejos mais profundos. Neste cenário particular, elas investem no sonho, na magia. E é isso que torna aquele pedido único • Quando a criança descobre a verdade, faz uma experiência de realidade, é uma ocasião emocionalmente forte para a criança, que aprende a destrinçar imaginário e real • A aquisição de autonomia afectiva permite-lhes afastar-se da magia, entrar na idade da razão • Quando a criança começa a questionar os pais sobre as atribuições do Pai Natal, os pais devem sempre, segundo Manuel Coutinho, responder cautelosamente com uma pergunta, não correndo o risco de dar informação nem a mais nem a menos: “Porque é que me estás a fazer essa pergunta?” E, aos poucos, devem ir adaptando o discurso às perguntas • Quando revelar a verdade, insista no facto de que se trata de uma história maravilhosa, em que você mesma acreditou, e os seus pais antes de você. E que assim deve ser perpetuado. E, sobretudo, que a magia do Natal está ligada ao prazer de estarmos juntos, de estarmos presentes na vida dos outros, e não só às prendas • Os pais não devem sentir-se deprimidos se as crianças ficarem decepcionadas porque não receberam tudo o que queriam. A frustração faz tanto parte da vida como o prazer e há que aprender a gerir isso. Quando se obtém tudo o que se deseja, como continuar a sonhar?
http://www.maxima.xl.pt/1208/fam/100.shtml
3 comentários:
Concordo em pleno com esta descrição do psicolgo Manuel Coutinho, e estas formulas de usar o Pai Natal , para presentear ou castigar os meninos é terrível, até porque não há meninos piores nem melhores. Há é os pobres e os ricos. E este consumismo desenfreado assusta-me terem os ultimos modelos de um brinquedo chiquerrimo e outros não terem um alimento...
Sinto falta dos valores familiares quando as ligações afectivas tinham raízes profundas, e não se olhava ao que cada um tinha ou dava, a familía era o bem mais precioso. O amor pode ser eterno, os bens materias são muito efémeros...
Com muito afecto vos desejo um ano de 2009 chei....nho disso mesmo muitos afectos...
bjocas
Feliz Ano Novo Mina.
bjs Bete
Feliz Ano Novo Bete e para sua Princesa.
Beijinhos
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