"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

"De perto ninguém é normal"

20.08.2009 | 06h30

Psicanálise e filosofia: "De perto ninguém é normal"




Fui assistir a um filme do Festival Assim Vivemos 2009, chamado “Somos todos Daniel” (1), onde os personagens pontuam a diferença de uma forma muito especial. A visão ampla do diretor nos permite ver, sem preconceitos, as realidades de famílias que lidam com as dificuldades de seus filhos com deficiências intelectuais, emocionais e comportamentais.

Essa vivência cinéfila aumentou meu ângulo de visão, levando-me a pensar a vida emocional de tantos, com tamanhas dificuldades, ainda que em graus diferentes.

Interessada e insatisfeita fui assistir “O nome dela é Sabine” (2), a fim de mergulhar ainda mais, nesse universo árido e complexo. O olhar da irmã de Sabine (diretora do filme), a reconhecida atriz Sandrine Bonnaire, reafirma o doloroso lugar de quem ama e não entende o outro, simplesmente porque não nos é permitida tal grandeza.

Todavia, é preciso aproveitar a amplitude desse olhar para perceber que as pessoas, rotuladas de ‘normais’, também sofrem em suas diferenças. Pois não têm direito a desvios, não lhes é permitida a raiva, as alterações de humor, o desequilíbrio, a melancolia, ou a loucura.

Quem estabeleceu esses dogmas?

Em que cartilha está escrito que não podemos entrar em desequilíbrio?

E por que o equilíbrio é o que se chama de ‘normal’?

Será que a normalidade humana não está justamente nesse desequilibrar-se?

Observar o outro à distância adequada é um exercício contínuo de autoconhecimento. Permitir ao outro uma alimentação diferente, gestos e gostos que desconheço, escolhas extremas, insuficiências e incompetências, é uma forma de dizer “eu também não sou você”. É uma maneira de estar junto sem estar dentro, é entender que a beleza do encontro está justamente em vê-lo de um lugar, que ele não poderá ocupar jamais. E ser interessante por isso.

Ou seja, o meu desejo na direção do outro está justamente na diferença, no microcosmo que cada um de nós é. De preferência, sem parâmetros.

Esta reflexão me leva a estar junto com Caetano Veloso, quando ele afirma que ‘de perto, ninguém é normal’.

(1) No verão de 2007, estudantes da Escola Summit de Montreal, com deficiências intelectuais, emocionais e comportamentais ensaiam uma complexa peça de teatro musical. A peça conta a jornada de um estudante com autismo que chega a uma nova escola. As belas e desajeitadas performances desses estudantes expõem uma profunda e perturbadora verdade. Eles não são diferentes de nós, não querem a nossa piedade, querem nos mostrar quem são, e ser compreendidos. O documentário acompanha os ensaios da peça, dando destaque a seis dos estudantes, seus pais e professores. Autismo, Aspergers, Síndrome de Down, TORCH Syndrome, A.D.D., suas manifestações e consequências são revelados. Essa jornada, em que às vezes a ficção se mistura com a realidade, revela a beleza desses jovens, suas habilidades e o fascinante efeito de sua honestidade. Dir. Jesse Heffring / Canadá / 92'

(2) A atriz Sandrine Bonnaire narra a história da irmã Sabine, que é autista, através de imagens filmadas ao longo de 25 anos. Sandrine testemunha o momento atual de Sabine, que depois de uma estadia infeliz num hospital psiquiátrico, passa a viver numa estrutura adaptada a ela. E, dessa forma, numa casa na região de Charente, na França, reencontra a felicidade. A partir desse episódio, o documentário mostra a penúria e o despreparo de algumas instituições especializadas e as dramáticas consequências que podem causar aos doentes. Participou da Quinzena dos Realizadores em Cannes 2007.

http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=183526

3 comentários:

Mina disse...

Bete
Nem de perto, nem de longe, todos nós temos as nossas diferenças, quer de pensar quer de agir de estar na vida, mas há uma coisa que acho fundamental o respeito e desse não prescindo.
A frase " De são e de louco todos nós temos um pouco", faz todo o sentido...

Ah! viste a reportagem?!...
Parece-me pela analise muito interessante, tudo que sirva para entender melhor o nosso semelhante e aceitar as diferenças tem a minha maior aceitação...
bjocas

PDD-NOS (Menina) disse...

Mina que reportagem?

Mina disse...

Bete
Eu queria dizer se viste, o filme rssssss
Bjocas e bom fim de semana