"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza". (Boaventura de Souza Santos)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Um olhar sobre o autismo

Saúde
por Ana Cardoso
(Psicopedagoga)



Um olhar sobre o autismo

Actualmente há já um reconhecimento razoável sobre a importância do tratamento do autismo envolver e ir ao encontro quer das necessidades da criança quer das necessidades da própria família.




O autismo é classificado como uma perturbação do desenvolvimento e que engloba dificuldades ao longo da vida nas capacidades sociais e comunicativas. Desta forma, identificam-se deficits na interacção social, na comunicação verbal e não verbal, da imaginação e capacidade simbólica e nos interesses e actividades.



Em geral, a maioria das pessoas a quem foi efectuado este diagnóstico tende a melhorar com a idade quando recebe um tratamento adequado e ajustado às suas necessidades individuais.



A experiência tem revelado que este tratamento é mais eficaz sempre que é efectuada uma intervenção precoce.



Seja qual for o tipo de intervenção é fundamental, como já foi referido anteriormente, que a família esteja englobada no tratamento de modo a permitir responder às dúvidas naturais dos cuidadores que convivem com uma criança com autismo.



Há uma evidência clara de que o autismo tem um impacto sobre a família e que a sobrecarga dos cuidados recai sobretudo nas mães.



Vários trabalhos têm mesmo demonstrado que as mães das crianças autistas apresentam mais depressão, do que as mães de crianças com síndrome de down, sugerindo que a sobrecarga com o cuidado e a própria natureza do deficit da criança exerceu um papel na depressão materna.



Abordagens que muitas vezes são adoptadas para facilitar o reconhecimento do diagnóstico e permitir o desenvolvimento de comportamentos adequados, são os grupos de ajuda mútua ou de apoio às famílias e os grupos psicoeducativos.



É de realçar que as famílias variam quanto ao tipo de suporte e informação de que necessitam. Mesmo dentro de uma família, cada elemento pode ter diferentes visões e expectativas, tanto sobre a criança, como sobre as suas necessidades.



É importante permitir nestes encontros que pais e irmãos reconheçam a frustração, a raiva e a ambivalência dos seus sentimentos como um processo normal de adaptação.



Ensinar técnicas na forma como lidar com a criança e possibilitar o acesso à informação sobre o espectro do autismo é tão fundamental como focar-se em aspectos emocionais.



Esta atenção e envolvimento que deve ser atribuída à família, insere-se no facto da mesma ser vista como a instituição educativa da criança, visto que é nela que se inicia o processo de socialização. Daí que qualquer mudança no comportamento de um dos seus membros influencie cada membro individualmente. A forma, contudo, como cada elemento vive e acaba por manifestar essas ocorrências, difere de pessoa para pessoa, acontecendo, não raras vezes, o recurso a estratégias que nem sempre são as mais adequadas.



A ansiedade parental acaba por ser uma realidade acentuada pelas dificuldades da coabitação diária, pelas exigências sociais e perante as diferentes etapas da vida da criança.



Identificada esta crescente necessidade de compreender o quotidiano de aceitação e adaptação por parte dos pais, e como forma de permitir o partilhar de experiências, nasceu em Setúbal a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo (APPDA), Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), fundada em 2005 por um grupo de pais e técnicos que consideraram indispensável a constituição de uma Associação que promova o desenvolvimento, a educação, a integração social e a participação na vida activa das pessoas com perturbações do espectro do autismo.



Ana Cardoso - 16-09-2009 13:11

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